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Foi uma brincadeira, mas ninguém avisou a imprensa

Escrito por William Santos | sexta-feira, 23 de março de 2012 | 11:54


(A zoação no portal G17 deu origem a uma notícia falsa que circula por diversos portais, exibindo o amadorismo da imprensa. Mais um micão na mídia)

Seria estranho demais o Zuckeberg trollar brasileiros. Mais estranho ainda seria ele fazer isto numa entrevista à CNN. Mas, se você acha que ainda tem pouca coisa estranha na estória, perceba alguma referências nela: Orkut; GIFs (aquelas figurinhas animadas); mensagens de “carinho e amor” flodando a página de atualizações dos contatos, entre outras tosqueiras.

Se o Mark Zuckeberg fosse brasileiro e utilizasse o Orkut (no auge e hoje) ninguém desconfiaria. Ele realmente poderia ter dito tudo, e usado tais referências. Mas o Zuck não um brasileiro pobre (de espírito) que busca ascensão através de rede social e corre pro Facebook pra se sentir 'elite' e se ver longe da favela (dizem que fica no Orkut a favela da internet).

E mais que isto: O Mark é um dos sujeitos mais espertos do planeta. Gente esperta não fica de fru-fru com rede social. Aquilo é um negócio – milionário, é bom que seja dito – pro Zuckeberg. Ele não iria sair por ai falando coisas deste tipo em relação a país nenhum, muito menos em relação a nós brasileiros. O Brasil é um mercado cobiçado, onde seu serviço de rede tem crescido bastante ao custo de muito marketing. Faz ideia do quanto o Mark – através de sua empresa – investiram no Brasil pra empurrar o Facebook goela abaixo, onde enfrentava (ainda enfrenta) resistências de usuários de outras redes tradicionais (Orkut, por exemplo)?

Foi com muito sangue, suor, trabalho duro... Er... Na verdade não teve nada disso não. Foi apenas grana. Uma cachoeira de grana jorrando em tudo que é mídia popular no país, com jabás de artistas, apresentadores, músicos, bandas, etc. que o Facebook começou a emplacar. Dai pra frente, a própria atitude dos usuários mais tontos do Okrut (aqueles que ainda não passaram pela puberdade, ainda que já estejam a caminho dos 30), na tentativa de um 'apartheid digital' – tem coisa mais babaca? – elegeu o Facebook como lugar de uma elite. Na verdade, no início da popularização o Facebook era um ambiente mais “limpo” de atualizações fúteis de usuários. Mas é claro que se você adiciona aquela pessoa que adora publicar correntes, gifs animados em sequência e recadinhos “fofos”, não pode reclamar de nada.

O Mark Zuckeberg nunca disse nada do que foi publicado.

E não era difícil supor que tudo não passava de uma
brincadeira de um site de humor, ou corrente com zoações.
Não é o serviço que cria estas coisas, são os usuários. Tudo depende de sua rede. Os serviços se esforçam para proporcionar total controle sobre os inconvenientes. Mesmo o Orkut, quando o ajustamos aos nossos interesses, é um ótimo ambiente social. Acontece que o Orkut é um serviço velho, que foi aprimorando-se. É um tipo precursor de muita coisa boa que surgiu nestes serviços de rede social. Lá fora, o Myspace (quase desconhecido aqui), sofre do mesmo mal. E, não por acaso, é também alvo das chacotas online, tal qual o Orkut. Dai vem a justificativa para que eu estranhasse que o Zuckeberg tivesse comentado algo sobre o Orkut na CNN. Lá o Orkut é tão pouco popular que quase não se sabe de sua existência. Talvez ele pudesse usar o Myspace como referência para o público norte americano, mas o Orkut, duvido que usaria.

Estas redes mais antigas, ao aprimorarem seus recursos não conseguem fazer de forma perfeita. Quando o Orkut passou a permitir selecionar contatos para receber atualizações, muita gente tinha centenas de contatos não classificados, pois a classificação destes só era feita depois do adicionamento, em uma página de configurações. Nada conveniente, e poucos se davam ao trabalho de ficar classificando contatos, uma vez que não significava muito fazer aquilo, não tinha utilidade alguma afinal. Quando passou a ter utilidade, aqueles que tinham uma porrada de contatos sem classificação, ou mal classificados, não estavam afim de seguir para a página de configuração e passar o dia marcando a que grupo pertence cada pessoa.

Isto não acontece no Google+. Assim que o contato é adicionado, damos uma classificação a ele (incluindo em um círculo) e cada atualização postada exige a definição de a que círculo se destina. O Facebook copia estas coisas, mas ainda não com a mesma eficiência do Google+. Mesmo assim, é melhor que o Orkut neste quesito. Portanto é possível perceber o sentido dado ao problema da inundação de futilidades e postagens inconvenientes de contatos avulso. Desenvolvedores já perceberam isto há muito tempo, e prepararam mecanismos para que nós usuários pudéssemos controlar o que receber entre as atualizações. A diferença está na comodidade. Algumas ferramentas modernas, como o Google+, tornam esta tarefa tão simples que passa a ser natural como simplesmente postar algo. No Facebook a coisa é um pouco mais complicada e no Orkut não há garantias de que vá funcionar, pois algumas pessoas (como eu) não se deram ao trabalho de reclassificar todos os contatos – principalmente os mais antigos – incluindo todo mundo nos grupos certos. O importante é que o sentido de desenvolvimento destes serviços é sempre o de oferecer formas de o usuário personalizar o recebimento de notificações, atualizações e o envio de publicações, para evitar choques e sobrecargas, como temos atualmente, entre o que é ou não relevante. Sendo assim, seria impossível o Zuckeberg fazer aquele comentário, desconsiderando toda a lógica de desenvolvimento adotada por tais serviços. E o que é mais ridículo: jogando a responsabilidade sobre o usuário. Só sendo muito ingênuo pra achar que o Mark, ou qualquer outro no comando de outros serviços, iria declarar uma bobagem destas.

Se no Google+ eu recebo apenas atualizações interessantes, não é porque lá está a 'elite social das redes sociais'. Mas sim porque lá eu tenho mecanismos de controle das atualizações e postagens mais sofisticados e fáceis de usar.

De onde veio a presepada

Por fim, a fonte da falsa notícia – que, como eu cheguei a supor, não passa de uma brincadeira – é o portal G17. Trata-se de um portal de humor, que publica falsas notícias com um tom jornalístico sério. Aqui está: http://www.g17.com.br/noticia/redessociais/cnn-diz-que-mark-esta-triste-com-o-comportamento-dos-brasileiros-no-facebook.html

Não só o site Gazeta Online não teve o cuidado de checar, como vários sites fizeram a publicação desta informação (inclusive no nosso portal local Bayeux emFoco, reproduzindo o da Gazeta Online), a exemplo de portais regionais de Alagoas e Sergipe, além do site da TV Transamérica e alguns outros menores.

A corrida em busca de polêmicas, e notícias sensacionais, acaba levando a imprensa a escorregões como estes. E, na web, imprensa e sociedade estão mais integradas do que nunca. Como não ser pego por uma brincadeira, ou falsa informação na Internet? Um dos caminhos é checar bem a informação, consultar pessoas que entendam o assunto em questão e ir em busca das fontes. Um detalhe naquela matéria chama muita atenção: embora citem a CNN, não há link para a tal entrevista dada pelo Mark. Isto é estranho também. Num impresso, tudo bem. Mas online com todos os recursos da web, nada impede um site de por um link para a informação direto da fonte. Notícia sem links para as fontes, é suspeita. Tudo bem, temos o Google, e se a fonte publicou algo, é só buscar lá. Ok? Nem sempre, na pressa de publicar uma notícia espetacular estes cuidados são tomados.

Eu saquei algo estranho assim que li no Twitter a manchete (sem sequer ter lido o conteúdo). Quando li a matéria, minhas suspeitas foram a 99% sobre ser mentira. E hoje, facilmente, desmascarei tudo. Isto exigiu um certo conhecimento sobre a web e redes sociais, sim. Porém, antes de tudo, exigiu bom senso. Matérias humorísticas podem ser confundidas com verdadeiras, se o leitor não tiver cuidado. No rodapé do G17 (a fonte criadora da brincadeira) há um aviso claro:



FIQUE ATENTO
G17 é site de humor e as notícias aqui publicadas não podem ser levadas a sério ou, servir de fonte de informação, pois se tratam de sátiras e ficção.


Alguém não teve o devido cuidado, e quando a matéria passou para um dos portais de notícias 'sérias', os outros embarcaram na maionese junto reproduzindo-a.

(Complemento: O humorístico G17 acabou de pegar mais um bobo. Agora a notícia foi parar no: http://www.pbagora.com.br/conteudo.php?id=20120321134501&cat=mundo&keys=-brasileiros-estao-estragando-facebook-fundador#.T2s39acur5k.facebook também. E não duvido muito que amanhã estará pelas redes sociais. Neste caso, quem tá pagando um imenso mico é a imprensa, incapaz de checar informação, ou submeter o que publica a uma análise prévia. Que papelão...)
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