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Eleições 2012 Bayeux - o que há no horizonte?

Escrito por William Santos | sábado, 10 de março de 2012 | 14:15


Moro numa cidadezinha perto da capital paraibana, dizem ser "área metropolitana", mas estamos longe de encontrar algo semelhante a uma metrópole por aqui. É uma cidade conectada com João Pessoa, quase um bairro da capital. Tem cem mil habitantes e cinco décadas de existência -- aproximadamente.

Não é o melhor lugar do mundo, e o maior objetivo de cada cidadão aqui é poder sair fora. A cidade virou um inferno politiqueiro impressionante, e só tem declinado em qualidade de vida. Transporte público? É assim, como descrevo em um blog à parte: acesse.

Embora esta cidade não evolua, políticos locais estão sempre agindo da mesma forma. E eles juram, cinicamente, que são todos diferentes entre si. A coisa ficou tão crítica em relação à política aqui que o eleitor ao escolher tem que calcular qual é o menos pior entre o que os partidos politiqueiros definem que vai disputar uma eleição. Isto aqui é o cúmulo da estupidez política, da falta de senso de cidadania e do uso de uma cidade como curral eleitoral.

Não era possível que cem mil pessoas se deixassem dominar por dezenas de patifes fazendo politicagem e deitando e rolando no poder. Devia haver algum sinal que expressasse a insatisfação de um grupo de eleitores que ficam afastado do debate político -- simplesmente por não ter estômago pra aguentar seres tão imundos quanto os políticos que dominam aqui.

Por curiosidade, fui buscar os dados exatos sobre a quantidade de pessoas insatisfeitas, e corajosas o bastante para registrar insatisfação nas urnas. De fato, os números estão lá.

O volume de eleitores que se negam a participar das eleições em Bayeux vem evoluindo ao longo dos últimos pleitos municipais. Agrupando os votos brancos, nulos e -- principalmente -- abstenção eleitoral o resultado é de quase 15 mil eleitores, num universo de 67 mil (com dados da eleição de 2008). São exatos 18% que viram as costas para a urna, ou se negam a depositar o voto em alguém.

Este comportamento pode ser explicado de várias formas, mas uma característica das eleições em Bayeux me parece fundamental para entender porque um número considerável de eleitores ignoram as eleições. A polarização, e o desgaste dos grandes grupos que já fizeram todos os tipos de coligações e combinações imagináveis para prender a atenção do eleitorado, vem derrubando até a credibilidade de quem ainda se deixava levar pelos golpes deles. Como em Bayeux não houve alternativa para quem entendesse o tamanho do prejuízo social que votar nos grupos populares causa à cidade, estes candidatos parecem ser absolutos. E, assim, o eleitor insatisfeito na maioria das vezes simplesmente nega-se a votar.

Em 2004 havia apenas um candidato encarando a missão de ser uma alternativa aos grupos polarizadores. Ele foi capaz de conseguir mais de mil votos em uma campanha engolida pela barulheira que os grandalhões da política em Bayeux sempre fazem. Em 2008, outro candidato se lançou nesta missão. Com uma série de deficiências, ele ainda conseguiu uma centena de votos à mais do que o candidato alternativo de 2004.

Entre as duas eleições a web apenas engatinhava. As campanhas de 2004 e 2008 não conseguiram usar a rede de forma, digamos, eficiente. Até porque, a web em 2004 tinha uma abrangência pequena dentro da cidade, e em 2008 as redes sociais mais eficazes para uma campanha ainda estavam em curso inicial para se tornarem populares. Só agora, em 2012, a internet tem um alcance razoável e consegue superar a mídia tradicional em alguns momentos, entre certos públicos.

Isto, entre outras coisas, permite que blogs independentes, como este aqui, seja capaz de difundir informação além da mídia tradicional (Rádio, TV, jornais...), que quase sempre servem a interesses políticos. É com parte desta mídia que eles contam na hora de se estabelecerem absolutos. Nunca vi, ouvi, ou me deparei com algum texto analisando as eleições levando em consideração a quantidade de eleitores que se abstêm de alguma fora do direito/dever de votar. Muito menos, qualquer matéria que investigasse as causas disto. Não importa. O principal é que fulano ficou com cinquenta e tantos por cento e beltrano com quarenta e uma coisinha dos fabulosos votos válidos. Fulano e Beltrano são os dois maiorais, e quem perdeu hoje é a oposição de amanhã em quem o eleitor deve votar se ficar chateado (e há a certeza de que vai ficar, pois ambos são parte de um mesmo esquema de domínio. Fulano e Beltrano são concorrentes do mesmo lado, servem apenas pra que você não tenha opção de escolha, mas pense que tem).

As brigas são pessoais, não tem nada a ver com as demandas da cidade. Um faz, o outro desfaz, os dois se acusam, a torcida levanta e ninguém consegue enxergar nada além destas bobagens todas.

A questão é: Será que desta vez tudo isto se repetirá?

Tenho a impressão de que a evolução das redes, da web e a comunicação direta (via redes sociais, por exemplo) foram capazes de atingir o tal esqueminha em cheio. De forma atípica, a cidade hoje vê um volume considerável de candidatos alternativos aos dois lados (e já há planos para laranjada também, o que deve aumentar bastante o número de candidatos no geral). Mas não são candidatos fracos, como no passado, meio loucos que acreditavam que pudessem encarar os grupos politiqueiros com o peito e a coragem. São bons candidatos, ao lado de bons cidadãos. Candidatos que já levantaram, inclusive via web e redes sociais, debates jamais imaginados em período pre eleitoral.

São dois universos políticos se distanciando nesta pre campanha. De um lado um grupo de ótimos candidatos dialogando com cidadãos online, de forma direta e honesta, coletando sugestões, promovendo debates e conquistando a confiança de um eleitorado que não acreditava mais na possibilidade de ver a cidade livre de toda a canalhice de décadas. Do outro uma horda de patifes trabalhando em cima de intrigas infantis, bandalheira politiqueira, fofocas e boataria barata. Para dar mais uma injeção de ânimo em quem andava meio desanimado, ainda temos os lucros das mobilizações online que ocorreram neste meio tempo. Leis, como a ficha limpa, podem barrar pelo menos 3 dos candidatos mais festejados pelos grupos da imoralidade.

No momento temos que esperar pra ver. Mas daqui a alguns meses poderemos nos deparar com uma eleição nova, incomum, surpreendente. Com debates públicos, participação do cidadão e coisas que jamais existiram no passado desta pequena cidade. Com isto, não tenho dúvidas de que eleitores, os mais exigentes e menos susceptíveis a cair nas conversas fiadas (estes 18% que não votam) vão se engajar politicamente. E ai, cambada da politicagem, a coisa vai ficar estreita pra vocês. Mesmo o eleitorado que antes votava nos lados definidos pela polarização, nunca foram inteiramente convictos de que estavam fazendo o melhor. Pelo tom da eleição em 2008, considerando que o que mais se falou foi em procurar o menos pior, estes eleitores tem consciência de que estiveram votando em péssimos candidatos. Se esquivando como podiam dos piores, mas ainda assim votando em candidatos estúpidos. Agora essa gente pode se deparar com um cenário diferente, e muitos não vão votar nos menos piores, mas nos melhores.

É a esperança. Confesso que não estava botando mais nenhuma fé em Bayeux, e não imaginava que um cenário destes poderia surgir (tão cedo), mas está ai, é real. E, por isso, voltei a este velho blog, meio esquecido, para postar alguns pensamentos sobre política, sociedade e cidadania.

O gráfico mostra como entre 2004 e 2008 o número de eleitores em Bayeux cresceu, de 65 mil para 67 mil. Na contramão deste crescimento, os votos válidos recuou de 51.712 para 51.369. E a soma de todos os índices que expressam a rejeição do eleitorado subiu de pouco mais de 12 mil para quase 15 mil (entre brancos, nulos e abstenções). Outro número que aumentou foi o de votos em candidatos alternativos, fora da polaridade eleitoral típica. Um crescimento pequeno, que quase não se nota, mas considerando que o aumento do eleitorado não refletiu em adesões aos candidatos tradicionais (que até perderam votos), este crescimento de algumas centenas para candidatos (loucos o bastante pra enfrentar uma eleição em Bayeux peitando os poderosos) é algo a se destacar.

Dados do TRE PB
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