Mas desta vez batemos um recorde. Quando encerrou-se a contagem dos votos na última eleição o número de abstenções foi alto, um dos mais altos em nossa história. A população utilizou as urnas pra mandar um recado de insatisfação, o recado ficou registrado nos números de 2008, mas não foi compreendido pelos políticos. Não sei ao certo se isto trata-se de um caso de “autismo político bayeense”, mas os sintomas são bem parecidos. A classe política local se fecha em um mundo particular, não percebe os gritos da sociedade ao redor, e começa a praticar os atos mais cínicos possíveis de imaginar, e os impossíveis também.
Poderíamos retornar no tempo, até a emancipação do vilarejo Barreiras, onde encontraríamos o propósito por trás da luta por emancipar um povoado distante do centro de Stª Rita. Um ‘curral eleitoral’ a mais na grande João Pessoa, e muitos pensando no bom negócio que isto renderia. O resultado é uma cidade cujo aspecto demonstra o supra-sumo da politicagem, uma obra prima e perfeita do que se faz com cinco décadas de negociações escusas em gabinetes descaso político.
Mas os atos mais espetaculares estariam por vir, na história recente. Em 2004 começaria uma era que culmina hoje, em hordas de negociantes de costas para a cidade, exatamente no instante em que a população explode em indignação.
Em 2004, a campanha política municipal viu o embate entre duas figuras montadas especialmente para atrair votos. Para quem? Esta foi a questão mais importante, cuja resposta era conhecida da população. Por trás dos nomes em campanha, estava a rivalidade política estabelecida na base da polarização sem diferenças. Quando questionados sobre quais seriam as maiores diferenças entre os “pólos”, as respostas mais relevantes falam em vantagens pessoais dirigidas a correligionários, ou amigos de um ou outro grupo. A politicagem inundou de vez toda a região, perseguições, ou o temor de perseguições, foi aceito como algo normal dentro da política.
Falsa normalidade em clientelismo e negociações ocorridas dentro de gabinetes deu em um circo político. Em 2006, na campanha estadual que reflete o mesmo modelo politiqueiro dentro deste curral eleitoral, veio o segundo ato. Com nomes demais e eleitores de menos, grupos não se entenderam, houve um – providencial – desentendimento. O show foi ridículo, contou com mortes e ressurreições, macumba e acusações de traição típicas de folhetim mexicano. Ali a população começou a entender que as coisas não iam bem. Nenhum envolvido nas disputas conseguiu se eleger.
A guerra mambembe se arrastou na mídia, Bayeux receberia o título de capital dos portais de internet, cada político parecia querer financiar o seu. Boatos invadiram a vida política e muito cinismo foi visto em toda cidade. Tudo acontecia, menos decência na administração.
Viria 2008, sem escolha o eleitor se viu completamente cercado. Entre os 4 candidatos, dois representavam os mesmo pólos de décadas, com a mesma forma de governar, destruindo a dignidade da cidade. Os dois outros candidatos ficariam abafados, seriam os “bobos da vez”. Embora fracos, os que ficaram de “bobos”, quando analisados de perto, tinham destaque semelhante aos ‘super-stars’ das facções políticas rivais. Sem projetos, os maiorais se garantiam em suas conversas fiadas, os menores também não tinham bons projetos, mas tinham alguma coisa, e isto deu a um tal Tony Cultura um número considerável de votos. Por incrível que pareça, um cara que se chama Tony Cultura alcançaria um terço do eleitorado, antes dominado pelas duas facções. Tony, soube-se depois, no seu último discurso em campanha declarou que seus eleitores deveriam votar em um dos candidatos “tradicionais”, alegando que já que ele não venceria, então que houvesse “mudança” – jamais seria possível mudança, no máximo haveria alternância do poder – esta atitude culminou em uma enxurrada de votos brancos, nulos, abstenções...
A cidade saturou, com um índice escandaloso de eleitores emputecidos, esperava-se que políticos percebessem, e maneirassem em suas atitudes escusas. Passassem a, pelo menos, demonstrar respeito ao eleitor e cidadão, e trabalhassem pela cidade. Não é o que acontece.
Impressionante, mas continuam na mesma politicagem de antes. Pior, estão se antecipando às campanhas de 2010 e 2012, fazendo sondagens de lançamento de campanhas. Vejam, com o quadro atual de Bayeux, com tantas necessidades e com a população injuriada com a política local, vereadores e membros do executivo são vistos em manchetes que falam em 2010. No mínimo, falta de bom senso, mesmo sendo característico de nossos políticos, isto chega a ser espantoso.
O próprio prefeito eleito, em entrevistas após as eleições, tratou de demonstrar interesse em candidatar-se a um cargo qualquer em Brasília. Sim, isto mesmo, >um cargo qualquer< deste jeito. Sem compromisso, projeto, força de vontade e nada além de sede pelo poder e ganância politiqueira para alcançar o posto de grande negociador dentro deste mercado.
Para reforçar a condição de curral eleitoral, a cidade ainda vê um vereador se auto proclamar pré-candidato, no meio deste turbilhão de problemas que a cidade enfrenta, com índices sociais no sub-solo, o sujeito parte de dentro da câmara não com propostas, nem com projetos, muito menos com disposição para trabalhar saídas junto às comunidades em Bayeux. Ele vem de lá e diz: “Serei candidato a deputado federal”. Depois justifica: “Bayeux precisa “fazer um deputado””, utilizando-se da vocação da cidade para ‘curral’, a justificativa vem emendada pela contraditória afirmação de que Bayeux deve deixar de ser um curral eleitoral.
As coisas não estão bem, mas desta vez não é só para o cidadão bayeense que as coisas vão mal, mas para os políticos. Bayeux, hoje, pode se confirmar como uma cidade onde a maioria dos cidadãos se conscientizou de que estamos onde a classe política faliu. Não foi a cidade, inviável, que faliu apenas, mas os políticos perderam credibilidade e isto pode levar a sociedade em busca de uma limpeza moral dentro da política, com renovação, sem simples alternância no poder. O esquema de polarização pode durar por um tempo, mas também deve ruir, e isto pode não demorar muito.
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