Foto : Google Maps |
Em meu primeiro artigo escrito
para este blog, descrevo a minha insatisfação com a condição precária dos
aeroportos brasileiros em todos os aspectos, seja desde ao passageiro que sofre
com filas e até mesmo com a dificuldade que pilotos e controladores estão
sujeitos no dia a dia destas categorias.
Muitas
coisas que deveriam funcionar com a devida normalidade simplesmente só
funcionam no papel, no planejamento, na maquete da computação gráfica, nas
promessas de certos políticos que só abrem a boca pra falar em investimentos em
aeroportos em época de eleição para favorecer suas campanhas e por aí vai, o
que será exposto aqui são relatos e constatações verdadeiras e que foram
confirmadas de diversas formas.
Os problemas vão desde o
atendimento aos passageiros que fica cada vez mais precário com o aumento da
procura pelo transporte aéreo já que uma boa maioria dos brasileiros hoje viaja
de avião com mais frequência até as deficiências da navegação aeronáutica, como
por exemplo VOR’s, ILS’s com GS fora de serviço em cidades importantes como
Brasília, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre. Temos também sérios problemas no
treinamento de controladores de voo principalmente na questão da proficiência do
inglês dos quais poucos controladores realmente saem qualificados para se
comunicar neste idioma. Este problema, é o responsável por confusões no
entendimento das comunicações entre os órgãos de controle de tráfego aéreo e
aeronaves, às vezes, as instruções não ficam tão claras para as partes por
causa deste problema.
Como
exemplo desta insatisfação, vou relatar fatos que ocorrem aqui no Aeroporto “
Internacional ” Presidente Castro Pinto ( SBJP ). Ao longo dos anos, o
crescimento do aeroporto da capital paraibana tem sido considerável, são
atualmente cinco companhias aéreas operando no Castro Pinto que são
distribuídas em até 16 operações diárias de pousos e decolagens com o pico das
operações no período da madrugada, e aí é que começa a via dolorosa do SBJP. Se
você for viajar na madrugada, chegue cedo para o Check-in, mas cedo mesmo, se
chegar um pouco mais tarde, você enfrentará uma fila bem indigesta e que não
anda. Para aumentar a indignação, a fila cruza os limites do terminal de
passageiros deixando alguns do lado de fora do prédio, é só ir lá e conferir em
dias de semana, irão constatar tal problema. Se você vai pegar um parente que
vem de viagem, se prepare para conseguir uma vaga no estacionamento que é bem
disputado, mas esse não é o problema maior, digamos que o seu parente chegará
num dos últimos voos da madrugada, tenha paciência para enfrentar a fila do
estacionamento porque ela é grande e só existem duas atendentes no máximo pra
atender todo mundo. Outra observação importante, leve dinheiro trocado, porque
os caixas daqui não possuem dinheiro trocado caso você queria destrocar aquela
notinha de R$ 50,00. Pra sair do estacionamento, você vai enfrentar uma mini
marginal do rio Tietê num final de tarde em São Paulo, relato isso aqui, porque
antes neste aeroporto, não existiam esses problemas, era chegar a hora que achasse
conveniente, fazer o que fosse necessário e ir embora para casa com
tranquilidade.
Carta Aeronáutica do Aeroporto de João Pessoa. Fonte : www.aisweb.aer.mil.br |
Do ponto
de vista operacional de aeronaves, o aeroporto dispõe de uma pista apenas com
duas taxiways Alfa ( A ) e Bravo ( B ), na hora do pouso pela cabeceira 16, a
maioria dos pilotos sempre param após a taxiway Alfa ( A ) que é a taxiway que
liga a pista aos terminais principais, obrigando as tripulações a fazerem o
giro em torno do seu próprio eixo para voltar e seguir para o estacionamento,
esta seria uma operação de rotina, os pilotos são treinados para isso, o
problemas é, com apenas uma pista e nenhuma taxiway paralela, como agilizar uma
saída de pista com duas aeronaves em aproximação atrás de você ? Seria mais
simples ter uma taxiway paralela para que ao pousar, imediatamente o piloto
livrasse a pista e deixasse a mesma livre para o próximo pouso sem a pressão de
agilizar o movimento de realizarem a operação de Back Track. Normalmente, à
maioria dessas tripulações estão no final de suas jornadas, ou seja, já estão
cansadas de um dia cheio de voos e não seria legal uma arremetida por causa de
aeronave na pista que não conseguiu livrar a tempo, gastando assim combustível,
tempo e torrando a paciência dos passageiros que também estão cansados. Uma vez
peguei um voo de Brasília pra cá, donde este voo começava em São Paulo –
Guarulhos, e ele estava atrasado já em 1 hora, ou seja, chegaria aqui com uma
hora de atraso, foi o que aconteceu, e quando pensei que tinha acabado o voo, o
piloto executou uma arremetida com o tempo totalmente limpo, sem nuvens nem
qualquer tipo de instabilidade a não ser o vento que estava de calda ( Vento
que vem de trás e empurra a aeronave para a frente ) bem na hora da aproximação
final pelo RNAV para a 16, já que o vento de proa ( Vento que vem de frente
para aeronave ) é a condição recomendada para pouso. Pra quem não conhece, a cabeceira
16 é a única que possui luzes que indicam qual é a rampa ideal de descida para
que o toque na pista seja feito dentro dos limites operacionais. No caso do
SBJP, o aeroporto possui luzes chamadas de PAPI ( Precision Approach Path
System ). Cansaço para os passageiros, para a tripulação que estava com o voo
atrasado em uma hora e ainda por cima pousar a noite sem luzes de balizamento
já que a cabeceira 34 não possui este auxílio, imagina o drama, já que aproximações
noturnas devem ser executadas de forma redobrada pelos pilotos devido ao risco
de acidentes devido à baixa visibilidade e o risco da desorientação espacial
por parte dos pilotos. Uma grande maioria de acidentes aeronáuticos é
ocasionada por fatores de fadiga no trabalho, cansaço, dentre outras razões
fisiológicas, e fatores como o pouso em cabeceiras sem luzes de auxílio de
rampa, só aumentam as chances de algo mais grave vir a acontecer.
Boeing 767-300 da Arkefly. Empresa que negociou com o governo do estado para fazer serviços internacionais ligando João Pessoa à Amsterdam. Foto : www.airliners.net |
Enquanto
isso, passageiros, tripulantes e outras pessoas sofrem com a deficiente
estrutura de um aeroporto que não atende as exigências caso seja necessária
ampliações em suas instalações, nossos políticos ficam falando abobrinhas,
enchendo linguiça da população e alimentando o turismo paraibano com falsas
histórias, com mentiras, com acordos que nunca se cumprem, só pra exemplificar
isso é só lembrarmos do caso da Arkefly, uma companhia aérea de bandeira
holandesa que faria um voo semanal entre Amsterdam e João Pessoa todas as
terças com uma aeronave Boeing 767-300. Esse voo estava tão confirmado que a
até a Arkefly abriu a venda de bilhetes no seu site. Desnecessário dizer que o
voo não veio pra cá, os motivos alegados pela empresa para a desistência por
João Pessoa : Primeiro, uma suposta licitação para adquirir veículos
especializados para atender uma aeronave do porte do Boeing 767 que são grandes
e robustos comparados aos equipamentos que são utilizados por aqui para atender
equipamentos como Boeing 737-800, A320-200 e Fokker 100. Segundo, ausência de
uma alfandega e de áreas de check-in para as operações da Arkefly, resultado
disso, a companhia holandesa desistiu do voo por falta de estrutura do
aeródromo em receber este tipo de aeronave e de dar suporte aos passageiros. Como
um aeroporto “ Internacional ” não possui alfandega ? Para o nosso azar e
vergonha, só o nosso mesmo. Diante desta situação, a Arkefly decidiu renovar os
seus contratos com os governos do Rio Grande do Norte e Ceará nas cidades de
Natal e Fortaleza respectivamente. Estas cidades além de Recife, Salvador e até
Maceió recebem voos desse porte por parte de empresas como a Air Italy e a
Linvingston. O aeroporto de Maceió é bem similar ao nosso em dimensões de sítio
aeroportuário e comprimento de pista, e como o governo de Alagoas conseguiu levar
estas empresas prá lá, só pode ser a forma de negociar com essas empresas que é
bem diferente da nossa, licitações corretas, resultado disso, eles arrecadam
mais, recebem mais turistas, e ainda por cima, encontram mais razão para
sacanearem e discriminarem este estado, não é pra menos, a nossa classe
política e o povo nas urnas contribuem muito para este quadro, com isso, o
Estado da Paraíba perde empregos, recursos, credibilidade, etc.
Outra crítica que coloco aqui é
uma que no meio aeronáutico é pouco discutida é com relação à questão da sala
AIS ( Aeronautic Information Service ) que é uma sala destinada ao planejamento
de voo. Nesta sala, estão localizadas as cartas aeronáuticas de todo o país, o
ROTAER que é o guia de todos os aeródromos catalogados, ou seja, lá é possível encontrar
toda a informação aeronáutica publicada pelo DECEA ( Departamento de Controle
do Espaço Aéreo ), além de informações meteorológicas de todas as regiões e
aeroportos do país. Esta sala deve ser localizada numa área pública do
aeroporto, só que aqui no Castro Pinto, a sala fica na área restrita ao
público, o que segundo um oficial da aeronáutica da sala AIS do Recife, é
errado, ele argumentou que por lei, a sala AIS deve ser localizada numa área
pública de um aeroporto e que é um espaço destinado aos tripulantes e a
sociedade e geral, isso explica porque fui bem atendido nas salas AIS de Recife
e Guarulhos, é um espaço de utilidade pública, é de obrigação dos profissionais
que trabalham em uma sala AIS, não só prestar serviço para tripulantes técnicos
apenas, mas também de prestar serviço para o público geral, entusiastas e
leigos da aviação, uma pena que aqui não exista esse tipo de conscientização.
Procedimento RNAV para a pista 16 ( Rwy 16 ). Fonte : www.aisweb.aer.mil.br |
Outra polemica que envolve o SBJP
com o crescimento das operações é o problema das chuvas, que fecham o aeroporto
muitas vezes em horário de pico e a instalação do famoso ILS ( Instrument
Landing System ). Atualmente, no aeroporto são utilizados os procedimentos de
não-precisão por NDB ( Non Direction Beacon ) e procedimento de precisão RNAV para
as duas cabeceiras. O procedimento RNAV, garante que a aeronave prossiga com a
visibilidade restrita até a altitude de 670 pés ( 203 m ), chegando nesta
altitude, o piloto é obrigado a executar uma arremetida, caso ele não visualize
a pista. No caso do ILS, essa altitude é de apenas 200 pés, o que garante que a
aeronave ficará com o visual bastante claro da pista mesmo em condições de visibilidade
restrita como chuvas e nevoeiros. Como se sabe, João Pessoa é uma cidade de
clima tropical onde as condições de céu claro predominam praticamente o ano
todo, e isso viabiliza muito as operações visuais, mas no caso de chuvas, a operação
é feita por instrumentos. O ILS em João Pessoa é o discurso de muitos políticos
a muito tempo, mas muito tempo mesmo, em épocas em que este instrumento não era
necessário neste aeroporto, mas agora ele realmente se torna importantíssimo,
principalmente nos últimos anos com as mudanças climáticas que possibilitaram a
incidência de chuvas mais fortes por longos intervalos de tempo. Em algumas madrugadas,
o tempo estava tão ruim que obrigou todos os 10 voos deste horário a serem
desviados para aeroportos alternativos, deixando na mão passageiros, companhias
aéreas, além claro, de gerarem prejuízo para o Estado, para a cidade além de
outros setores. Instalar um ILS é caro, mas no caso de João Pessoa virou
necessidade, mesmo que o aeroporto feche só três vezes ao ano, mas quando ele
fecha, fecha pra valer prejudicando muitos serviços. Já tá mais do que na hora
dos políticos pararem de mentir e realmente correrem atrás deste equipamento,
mas enquanto esses cidadãos atuais estiverem no poder, não espere que a
instalação de nenhum ILS, até lá, quem vai pagar o preço aqui na Paraíba pela
incompetência destes políticos são os passageiros, os usuários do aeroporto, as
companhias aéreas, etc. Entra promessa, saí promessa e nada é feito para
solucionar ou reduzir ao máximo estes problemas.
Vista geral do Aeroporto Internacional Presidente Castro Pinto. |
Esses são alguns dos problemas
dos muitos que as administrações atuais e posteriores não imaginariam que aconteceriam
em terras paraibanas já que eles estavam mais preocupados em encher os bolsos
de dinheiro público para enriquecerem as custas da miséria e do aperto do povo,
com isso, também financiam suas campanhas políticas para que se reelejam e
continuem a mandar num povo sem educação, sem instrução, sem conhecimento da
verdade já que educação não é priorizada por governo nenhum. Os políticos
paraibanos pouco se importam com a taxa de crescimentos de muitos setores do
estado, e por isso nunca conseguiriam prever que problemas como estes surgiriam,
e nem tampouco eles possuem soluções inteligentes para resolvê-los, tudo ou
quase tudo na Paraíba tem fins eleitoreiros. A Paraíba talvez seja o único estado da
federação em que os políticos não se importam com os problemas reais deste
estado, a única preocupação que é colocada e escancarada para o povo é de quem
fará a sucessão política, quem será o novo prefeito, quem será governador,
deputados, senadores. Discussões inúteis sobre a sucessão do poder, esquecendo-se
completamente das necessidades do povo e do estado. Se eles usam este tipo de
política antiquada do tempo dos coronéis na gestão de um aeroporto, imagina com
o resto dos serviços de grande importância ? Pensem bem antes de votar da
próxima vez já que, enquanto esses políticos atuais estiverem no poder, não
teremos aeroporto com taxiways, não haverá vagas no estacionamento,
enfrentaremos filas gigantescas para pagar estacionamento e na hora de ir ao
check-in, até complicações pra sair do estacionamento. Hoje a coisa já tá
assim, imagina daqui a uns anos, pensaram ?
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mas esse aeroporto e bom sério eu não estou mentido o aeroporto de jpa evoluiu irmão!
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