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Cadê a Velocidade Que Eu Contratei

Escrito por William Santos | sexta-feira, 28 de dezembro de 2012 | 21:32



Não é fácil entender certas coisas relacionadas a estas máquinas que nos conectam ao mundo digital. São muitas as dúvidas e confusões que todos nós temos e fazemos -- e, não se engane, até mesmo entre técnicos podem rolar certas confusões. Um dos objetivos deste blog é o de simplificas as coisas, principalmente para o público leigo. É com este propósito que explicarei neste post porque sua conexão de 1 Mbps baixa arquivos a aproximadamente 128 kB/s e quando você tinha internet de 128 Kbps os downloads eram feitos na faixa de uns 16 kB/s.

Nem sempre a culpa é da operadora e, na maioria das vezes, ninguém tem culpa no meio da confusão de bits e bytes em que vivemos. O problema começa no tratamento dos dados que compõem a informação que acessamos, manipulamos, transferimos ou compartilhamos via web, ou qualquer outra mídia digital. As máquinas que fazem o trabalho todo, nossos smartphones, PCs, notebooks, tablets, smartTVs, etc. precisam codificar e decodificar os dados em bits. Isto porque uma máquina destas só consegue entender dois conceitos: ligado | desligado. Que pode ser também: eletricidade | ausência de eletricidade. Em um nível bem simples, é isto ai. Nós podemos converter para coisas mais simples ainda o modo como nossos computadores e geringonças diversas enxergam os dados entendendo que tudo dentro dos cérebros digitais não passa de sequências de sim e não. Jogando isto na matemática, as representações só precisarão de dois dígitos. Poderiam ser quaisquer dígitos, desde que fossem apenas dois, pois só há dois estados possíveis que compõe a informação para os computadores, então convenciona-se afirmar que os dígitos que trafegam nos chips e circuitos são o 0 (zero) e o 1.

Assim, com um sistema de numeração de apenas dois dígitos fica mais fácil programar e projetar sistemas computacionais e estruturas, sejam elas lógicas ou físicas. Na maioria das vezes, tanto faz projetar um circuito ou desenvolver um programa de computador, as bases no desenvolvimento de ambos sempre vai depender, ou passar por conversões para a “lógica binária”. Aqui começa o abismo que nos separa das máquinas e que vai construir limitações e distâncias enormes entre nosso cérebro e os chips. Mas ao invés de entrar neste empolgante assunto relacionado aos limites entre nós e nossos PCs, vamos explorar apenas as confusões que surgem quando estamos diante dos bits e dos bytes.

Porque linguagem binária?

Você já deve ter lido, ou escutado, sobre os computadores usarem “ linguagem binária” para lidar com a informação. Esta “linguagem” é importante para as máquinas porque elas não seriam capazes de realizar uma leitura de dados no modo como escrevemos e somos capazes de ler. Para começar, nós usamos em nossa escrita -- e nem vou falar em sons, da linguagem falada, imagens, etc -- centenas de símbolos, cada um com um significado, que podem adquirir sentido quando combinados em palavras. Fragmentando os dados com os quais lidamos em nossa linguagem, encontramos em cada símbolo -- ou caractere -- a menor unidade de informação. O ponto no final desta linha é um caractere, não há nada menor do que ele. Assim como cada letra nestas palavras que você lê é a menor unidade de informação possível, pois elas são compostas por um único símbolo, não há nada menor. Já as palavras são conjuntos maiores de caracteres combinados. Elas compõe dados e podem, ao longo de um texto por exemplo, gerar informação. Pois bem, nos computadores a informação e as palavras são escritas não com todo um alfabeto como o nosso, nem com todos os nossos números e símbolos, mas sim com apenas dois símbolos que, como já dito antes, podem ser resumidos a 0 e 1. Claro, para que possamos digitar e o computador possa interpretar e processar os dados é preciso que se façam conversões, tanto para que a máquina entenda o que estamos inserindo e, ao devolver o resultado do processamento, uma nova conversão é feita para que dispositivos escrevam usando todos os caracteres de nossa linguagem  tornando a informação compreensível para nós.

Medindo a informação

É ai que começa a complicação quando não somos técnicos, ou não temos muita noção de unidades de medida da informação e nos aventuramos no mundo digital onde precisamos lidar com estas máquinas. Para complicar ainda mais, o nosso sistema e numeração é baseado no número 10, enquanto o computador não vai além de dois dígitos. Este sistema, decimal, é impraticável para o trabalho interno das máquinas, pois exigiria que elas entendessem níveis de 0 a 9, os dez dígitos que utilizamos. Sendo assim, estamos diante da primeira diferença entre linguagens que vai ocasionar uma série de dúvidas, entre elas aquela sobre a velocidade no seu plano de internet, o sistema binário (dois dígitos) dos computadores versus o sistema decimal (dez dígitos de nossa linguagem). Esta diferença de bases força os múltiplos das unidades usadas para medir a informação a não fecharem em números redondos. Enquanto estamos acostumados a medir de 10 em 10, 100 em 100, 1000 em 1000, etc. quando lidamos com medidas de informação a base 2, oriunda do sistema binário adotado, empurra os valores para 8 em 8, 16 em 16, 32 em 32 e os "kilos" não são medidos em 1000, como no nosso quilograma, mas sim em 1024.

A Tabela ASCII e os 8 bits que formam um Byte

Costumamos começar nossas medidas em 8 bits graças a existência de um código, que é padronizado para cada símbolo existente em nossas linguagens. Um dos padrões mais comuns obedece a uma tabela conhecida por tabela ASCII (com variação para a ASCII estendida). Até mesmo o espaço em branco entre cada palavra em um texto é interpretado como caractere e condificado em linguagem binária.

Cálculos meio complexos envolvendo conversões de bases (decimal para binário e vice versa) estipulam que a tabela ASCII, para contemplar todos os principais símbolos de diversas línguas, precisa codificar cada um dos nossos símbolos (letras, números, etc.) em 8 dígitos na linguagem dos computadores. Aqui está a fronteira entre os dois mundos. Em nossa linguagem, a menor informação é compreendida como 1 Byte. Mas, como vimos, este Byte de informação (que pode ser qualquer símbolo) quando entra nos circuitos dos computadores é convertido para a linguagem de apenas dois caracteres, transformando-se em um código de 8 dígitos. Cada um destes dígitos que trafega nos computadores são conhecidos por bit. Como se não bastasse a complexidade entre os sistemas de numeração, os dois nomes ainda são bem parecidos e é aqui onde surge o segundo elemento que mais contribui para a confusão toda sobre a velocidade da internet.

Parecidos, mas muito diferentes?

Tudo o que começa com um símbolo em nosso mundo, é escrito com 8 dígitos (ou alternância de voltagem) dentro dos computadores. Um “olá” para nós tem 3 letras, mas para o computador cada letra precisou ser codificada em uma sequência de 8 zeros e uns combinados, totalizando 24 dígitos. Ou seja, numa tradução para bits e bytes, nossa palavrinha “olá” tem 3 Bytes de informação ou 24 bits, tanto faz. Dizer que a palavra, ou qualquer dado, possui 24 bits, ou 3 Bytes dá na mesma. Assim como afirmar que 1 litro tem mil mililitros, ou que mil gramas é um quilograma.

Eis então que você adquire um plano de internet onde a empresa fornecedora do serviço lhe diz que terá 512 Kbps. Mas em um belo dia você resolve baixar um anexo e vê no seu navegador que a medida da velocidade de download está em 64 kB/s. Algo parece estar errado, não é mesmo? Mas a encrenca não para por ai. A legislação brasileira, até onde sei, permite que operadoras de serviço de internet ofereçam apenas 10% (teriam subido agora para 20%, mas não tenho certeza se já está em vigor) da velocidade contratada, sem nenhum problema. Ou seja, se você contratou um serviço de 512 Kbps a operadora não tem obrigação de lhe entregar toda esta velocidade, e pode até entregar 51,2 Kbps sem que você tenha direito a reclamar, afinal a Anatel, agência reguladora, permite que a empresa faça isso (inclusive deve estar em seu contrato). Tudo isto junto nos leva a levantar inúmeras dúvidas sobre o que contratamos, o que recebemos e onde estão nossos direitos. Mas calma, nem sempre você está sendo roubado. Veja o seguinte:

Entre bits e Bytes existem algumas diferenças, tanto quanto entre centímetros e metros. Assim como 1 centímetro não equivale nem de longe a 1 metro, 1 bit não pode equivaler a 1 Byte. Acontece que quando você compra alguma coisa medida em centímetros, mesmo com a unidade estampada de modo abreviado dá pra deduzir que a medida está em centímetros -- cm, na abreviação -- e não em metros -- m, na abreviação. Já em relação às velocidades na internet a coisa é mais sutil. As unidades Kbps e kB/s são diferentes. Notou a diferença? Pois é, são compostas das mesmas letras e significam Kilobits por segundo, ou Kilobytes por segundo. A única diferença, na sigla, é a letra B em maiúscula e a substituição do p (de por) pela barra (que tem o mesmo significado) na unidade de kilobytes por segundo. É por isso que a maioria de nós acaba intrigado com a diferença entre o que está no contrato e o que vemos nas barras de progresso de downloads. Para completar, ainda vem aquela resolução da Anatel, que diz que as empresa não são obrigadas a entregar mais do que 10% da velocidade contratada.

Como o limite estipulado na legislação é próximo da velocidade convertida entre bits e Bytes, algumas pessoas acreditam que as operadoras, de sacanagem mesmo, anunciam planos acima da velocidade que vão cumprir e que isto se instituiu entre todas elas. Mas é um mito. Note que se cada Byte equivale a 8 bits e se você contrata um serviço com velocidade em Kbps (kilobits por segundo) e mede a velocidade dele em kB/s (kilobytes por segundo) a diferença será equivalente à velocidade contratada dividida por 8. Usando uma matemática simples, a velocidade em kB/s é o mesmo que 12% da velocidade em Kbps. Um simples B maiúsculo e uma barra faz toda a diferença, mas quase nunca é percebido, ainda mais para nós, que vivemos neste país da imoralidade e estamos acostumados a sermos passados para trás. A desconfiança é natural, mas a realidade sobre este assunto está nesta (nem tão) simples conversão de valores.

Para saber se sua velocidade é a mesma que está em seu contrato, divida a velocidade contratada pela velocidade que você vê na medição do download. Considere que ela oscila, e que dependendo de como você está navegando simultaneamente ao download, sua banda será dividida e o download vai aparecer em uma velocidade mais baixa do que o normal. Quanto mais próximo de 8 for o resultado, mas fiel é seu plano. Se o resultado for acima de 8, sua conexão está com velocidade abaixo da contratada (e normalmente será assim, um pouco abaixo indica apenas que há outros serviços rodando em segundo plano e usando a internet, como atualizações de anti vírus por exemplo). E se o resultado for abaixo de 8, então você está com uma velocidade um pouco melhor do que a contratada, o que pode ser normal de acontecer também em algumas prestadoras deste serviço.

Existem outras formas de checar a velocidade. Por exemplo: dividindo a velocidade contratada por 8, assim você saberá em quantos kB/s seus downloads deveriam ocorrer (se estiver batendo certinho, parabéns para sua operadora)

Enfim, nem sempre estamos sendo passados para trás nos planos de internet. Em alguns casos, apenas não compreendemos muito bem as diferenças entre as medições de tráfego, e isto nos deixa na dúvida. Como instituições, empresas e órgãos públicos de fiscalização aqui no Brasil não inspiram confiança, nossas dúvidas sempre nos levam a deduzir o pior. Os serviços de acesso à Internet no Brasil são imorais, péssimos e caros, mas a diferença entre o contrato e a taxa vista durante os downloads nem sempre são prova da ineficiência da operadora. Agora que você sabe calculá-los, fica mais fácil analisar a qualidade de sua conexão.
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