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Este é o Monza, Não o "Novo Monza"

Escrito por William Santos | domingo, 24 de abril de 2016 | 19:59

Embora o assunto seja velho, às vezes se topa com versões equivocadas sobre este conceito da Opel de alguns anos atrás. É o Monza, mas não aquele que você imagina que seja. Este é inédito no mundo, sem qualquer vínculo com o que rodou pelas ruas brasileiras nos anos 1980 e 1990. A Opel, que deixou de ser a plataforma para os carros da GM no Brasil (embora o Corsa ainda esteja na linha, desde 1994, com o atual Classic), continua produzindo automóveis decentes na Europa. Em 2013, durante o Salão de Frankfurt, a montadora apresentou ao mundo o  tal Monza. Um concept car que, como todo carro conceito visto em salões, era apenas uma demonstração dos traços que os futuros lançamentos da marca receberiam.

Passou longe da Opel a intenção de relançar o Ascona. Isto é nítido pelo próprio conceito apresentado, que se aplica sobre uma carroceria nitidamente superesportiva, bem diferente do carro mediano, para famílias, que um dia foi o velho Ascona. A confusão sobre um "novo Monza" surge apenas por aqui, no Brasil e justamente por conta de termos convivido com o Ascona em nossa terra batizado por Monza. Lá fora o Monza Concept é um carro extravagante com a intenção de antecipar o que a Opel preparava para o futuro, mas aqui soou como o renascimento de uma lenda (sim, tá cheio de sedanzinhos médios lendários em nosso mercado. Até as Opaletas "mitam" por aqui...)

Além do mais, mesmo que o Ascona ressurgisse como um carrão daqueles, não chegaria por aqui. A Chevrolet, que representa a GM em nosso mercado, tá empenhada em vender uma linha produzida exclusivamente para "países emergentes". Entenda isto como: Carros que nunca entrariam em muitos países europeus, não apenas por não cumprirem todos os requisitos que muitos governos impõe sobre segurança, emissões, etc., mas também porque os consumidores simplesmente ririam da tentativa de alguém tentar vendê-los. Tente imaginar um Onix no mercado britânico, por exemplo (com crise européia braba e tudo o mais). Difícil né?

Bom, poderíamos ter a Opel no Brasil, ou a GM poderia importar e trocar as logomarcas (já fizeram isso com muitos outros modelos nos anos 90), pra parecer que é Chevrolet. Acho difícil. Pior ainda ao saber que aquele conceito, que não foi feito na intenção de ser o Monza brasileiro, devia custar pra lá de 200 mil contos se chegasse ao mercado.

Por fim, se o Monza renascer ele vai trazer de volta seu nome original alemão, como já citado anteriormente: Ascona. E ai sim, talvez, um relançamento poderia acontecer. Mas isso levaria décadas à frente (com umas 4 gerações de atraso), quando a GM do Brasil voltasse (se é que volta) a trazer da Europa alguns carros de verdade. Nada disso tem relação com o Monza Concept de 2013. Um "novo Ascona" seria outro projeto, outro carro, fazendo jus a um sedã médio urbano, não aquela espaçonave pousada no estande da Opel em Frankfurt em 2013.

Afinal, que fim levou o Ascona/Monza/Cavalier (nomes que o modelo recebeu em cada uma das marcas que o produziu: Opel, Chevrolet e Vauxhall, respectivamente)?

A resposta começa em idos de 1993/1994 e a história do fim do modelo no mundo coincide com um período empolgante para quem curte cultura automotiva no Brasil. Depois que Collor chamou de carroças [mal] motorizadas a produção nacional e abriu o mercado pra importação de máquinas de verdade, as montadoras nacionais ficaram espertas. No fim dos anos 1980 havia tanto atraso na atualização de modelos que a GM não conseguiu alinhar o Chevette ao seu correspondente europeu, o Kadett. Resultado: O Kadett entrou no mercado como um novo modelo e o Chevette passou por um facelift bem cretino, que o deixou com as fuças do Monza. Assim tivemos um Chevette próprio em nosso mercado, que fingia ser um mini Monza, e outro Chevette europeu que nos vendiam como se fosse de outra categoria.

Opel Calibra - O carro conceito que em 1990 foi para o mercado e revolucionou o design em sua década.
Nos início dos anos 1990, um belíssimo carro conceito da Opel apareceu em salões europeus. Ele teria grande importância para 1994, quando o Ascona seria aposentado (e sumiria para sempre). Era o Calibra. Suas linhas limpas influenciaram todo o design da Opel naquele período. Na Europa, a Opel
Vectra - Na Europa já substituía o Ascona (Monza), no
Brasil ele teve que conviver com o velho Monza por longos
anos ainda.
preparava o lançamento do Vectra, substituto natural do Ascona, com traços fortemente baseados no Calibra (faróis retos, grade frontal com abertura sem divisões -- exceto pela logomarca no centro -- lanternas traseiras e outros detalhes ao longo da carroceria do sedã seguiam os traços do conceito). Mas antes da concepção do Vectra, o desenho do Calibra já afetava os lançamentos da Opel e GM (A mini Van Lumina, por exemplo) e o sucessor do Opala (que no Brasil estava atendendo pelo vulgo Diplomata, naquela época -- e já servia a várias prefeituras como ambulância, em sua versão station wagon, enquanto o sedã fazia rondas na PM ), teria os traços limpos do Calibra. Assim a GM apresentou o Omega, o primeiro carrão brasileiro capaz de peitar Mercedes e BMW no nosso mercado em seu tempo. Como o Omega tinha um pouco do DNA do Calibra e a GM não tava afim de tirar o Monza de linha, resolveram então pegar o que podiam do Omega e socar no nariz e na busanfa do velho Monza. A lateral quase não mudou (inclusive a calha pra escoar a água do teto continuava lá, correndo sobre as janelas), mas ao receber novas frente e traseira o Monza se renovou a ponto de poder conviver com o Vectra e dividir o mercado por muitos anos aqui.

No meio da década de 1990, representando quase um zumbi entre modelos muito mais modernos, o Monza finalmente caminhava para o desaparecimento. Mas o Vectra que o sucedia na Europa tranquilamente, tinha dificuldades de fazê-lo aqui. Outra vez o atraso nas atualizações fez com que o mercado nacional não conseguisse digerir bem novos modelos. Então qual a atitude da Chevrolet? Trouxe o "novo Kadett"! (de novo???)

Sim, àquela altura até o Kadett já tinha ido pro beleléu na Europa. Lá a Opel havia colocado o Astra em seu lugar. Aqui o Kadetão reinava. Como os dias do Monza estavam contados mesmo, a Chevrolet trouxe o Astra, manteve o velho Kadett na linha e ofereceu uma alternativa pra quem considerava o Vectra (em sua segunda geração) sofisticado demais -- mentira! era só caro demais mesmo.

O Astra figurou no mercado quase como um "vice Monza", disputando popularidade com o Vectra até que as atualizações no Vectra o jogou para a faixa de luxo (facepalm) derrubando o Omega. Assim, o que começou como um Chevette, na Europa, finalmente avançou ao posto de Monza no mercado nacional no início deste século. E nada mais do velho Ascona sobrava em nosso mercado. Depois disso a Chevrolet desistiu da plataforma européia e decidiu zoar tudo de vez. Juntou partes do Corsa 94 e produziu uma tosqueira à qual, só de sacanagem, batizou de Agile. Era uma preparação para o que viria com uma nova linha puxada por Onix e outras bizarrices.
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