Mobilidade urbana, quando levada a sério, se faz com propostas realmente encantadoras. Ao contrário das picaretagens brasileiras, com VLTs, trens superfaturados, corredores de ônibus, com linhas ineficientes, mini metrôs de superfície, gambiarras pra manter os velhos sistemas caça niqueis por séculos destruindo o direito de ir e vir em paz. Ciclovias quase nunca são levadas a sério por aqui -- nem sempre as ciclofaixas são feitas corretamente nas já estranguladas avenidas -- simplesmente porque não parece ser uma solução que gere renda a empresas que exploram os serviços de transporte público. E então desperdiçamos grana e emitimos poluentes em nome do lucro de meia dúzia de cretinos quando precisamos nos deslocar, mesmo em pequenos percursos.
Não custa nada sonhar com um mundo mais racional. E em Londres um escritório de arquitetura, sob o comando do renomado arquiteto Lord Norman Foster, lançou uma proposta inteligente e ao mesmo tempo belíssima para desafogar o complicado trânsito londrino. Ciclovias elevadas, sobre os trilhos das centenárias linhas de trens da capital inglesa, com diversas conexões entre diversos bairros da cidade, cobrindo nada menos do que 220 quilômetros em sua extensão.
A grande sacada da ciclovia proposta é que ela aproveita as características de construção das velhas linhas férreas, que foram construídas numa época em que a potência que impulsionava os trens vinha do vapor, e este não tinha força para empurrar as velhas maria fumaça morro acima, portanto as linhas contornavam aclives, aplainando e modificando o terreno para que fosse o mais plano possível. Estas mesmas características são hoje preciosas para quem pretende pedalar por Londres. De quebra, as ferrovias interligam a cidade em seus pontos principais.
Um dos focos principais do projeto é a segurança dos ciclistas, que não encontrariam em seu trajeto nenhum outro veículo motorizado, nem mesmo grande fluxo de pedestres.
"Ciclismo em Londres, durante a última década, tem crescido 70 por cento - em estradas principais o número de ciclistas aumentou em 173 por cento. No entanto, isso ainda se traduz em apenas 2 por cento de todas as viagens e está aquém de muitas outras cidades do Reino Unido e da Europa. A segurança rodoviária é um fator-chave: entre 2006 e 2011, o número de vítimas de bicicleta subiu pela metade. Andar de bicicleta é responsável por apenas 2 por cento das viagens diárias, mas é responsável por 20 por cento das mortes e acidentes graves nas estradas." Aponta o texto que acompanha a apresentação do projeto no site do escritório de arquitetura Fosters + PartnersAo longo das ciclovias, lanchonetes, bares, cafés e pontos de descanso, com belas vistas, fariam parte do conjunto arquitetônico. Isto mostra que a ideia de investir na via elevada sobre os trilhos do século passado para ciclistas não é só uma solução de mobilidade urbana. É também o investimento em recursos que garantem melhor qualidade de vida e acrescenta valor a uma cidade que, convenhamos, já tem lá seus grandes valores.
Fonte: Fosters + Partnes
Postar um comentário