Home » , , » Empresas Que Voaram Para o Castro Pinto - Via Brasil Linhas Aéreas

Empresas Que Voaram Para o Castro Pinto - Via Brasil Linhas Aéreas

Escrito por Diêgo Monteiro | sábado, 12 de janeiro de 2013 | 20:40

Foto : www.spotterjpanoar.com
Uma companhia aérea de origem nordestina, com essa descrição, nascia em janeiro 1999 na cidade do Recife, a mais nova companhia aérea de baixo custo ( Low Fare / Low Cost ), a Via Brasil Linhas Aéreas.


Mapa de Rotas da Via Brasil Linhas Aéreas.
A Via Brasil, chegava num momento em que o mercado da aviação brasileira, estava com condições favoráveis para a sua expansão já que, o momento econômico do Brasil facilitava a criação e a existência de empresas com caixa mais modesto do que empresas como às gigantes, Varig, Vasp, Transbrasil e TAM. Nessas condições de mercado, a Via Brasil conseguiria uma grande ocupação nos voos já que poderia oferecer preços mais convidativos, principalmente para pessoas que simplesmente nunca entraram em um avião na vida e que muitas vezes teriam de viajar no lombo dos ônibus para cidades como São Paulo e Rio de Janeiro já que as passagens nas companhias tradicionais mesmo com as condições de mercado daquela época, ainda não eram convidativas para todos os brasileiros.


Fotografia do CN-RMQ em 1978, com apenas 1 ano de serviço, novinho em folha operando pela Royal Air Maroc. Foto : www.airliners.net


Como o caixa da empresa era limitado se compararmos as outras empresas, só foi adquirida apenas uma aeronave, um Boeing 727-200 Advanced de fabricação norte-americana que fez seu primeiro voo no dia 3 de março de 1977, sendo posteriormente entregue a empresa Royal Air Maroc do Marrocos em 22 de março de 1977 e voou pela empresa africana por 21 anos ininterruptos com o prefixo CN-RMQ, fazendo voos principalmente para a Europa. Depois disso, ele foi vendido para uma empresa de leasing norte-americana chamada Aircraft Inventory Corporation ( AIC ), em 1998, a Via Brasil, arrendou a aeronave em 27 de novembro e o voo de entrega para a companhia brasileira, foi feito em dezembro do mesmo ano com o prefixo PT-MLM, este, seria o único avião da empresa em toda a sua existência. O esquema da pintura era predominantemente branca, com uma linha azul na fuselagem que se prolongava até o motor que fica na parte de cima da aeronave, já a calda, possuía uma pintura verde com um desenho de um pássaro alçando do voo com um sol amarelo no fundo.







Com aeronave em solo brasileiro e os primeiros funcionários contratados, era hora de arregaçar as mangar e trabalhar, como a Via Brasil era uma empresa que operava em voos não-regulares ( Charter ), ela ficaria proibida de vender bilhetes como as outras empresas, estes só podiam ser vendidos em agencias de viagens ou na forma de pacotes turísticos e não poderiam publicar horários como fazem as companhias regulares, mas na prática isso não aconteceu. A Via Brasil vendia bilhetes bem abaixo do mercado, o que atraia um público que só estava acostumado a ver estes aviões, pela TV ou em aeroportos, por isso, muitos abandonaram as viagens de até 3 dias de ônibus para São Paulo e Rio de Janeiro pela rapidez do trijato da Via Brasil. A empresa operava em 1999 todas as segundas, quartas e sextas com os voos VBR9004 entre São Paulo e João Pessoa fazendo a volta como VBR9003 ligando João Pessoa a Recife e São Paulo. Já nas terças e quintas fazia o voo VBR9001 que fazia a rota São Paulo, Natal e Fortaleza retornando como VBR9002 ligando Fortaleza a São Paulo. Já nos sábados, a aeronave fazia o trecho São Paulo - Porto Seguro - São Paulo indo como VBR9007 e voltando como VBR9008.






Durantes estes voos, mesmo sendo uma empresa modesta, tinha um serviço de bordo de respeito, refeições quentes, almoços, jantares como não se serve mais hoje nos voos atuais, comida boa e de qualidade que juntando com os preços, já que era possível viajar entre Fortaleza e São Paulo por R$ 280,00 que era um valor bem abaixo do mercado comum para aquela época, fizeram com que a ocupação nos voos fosse acima dos 75% transportando 92149 passageiros fazendo quase 500 voos fechando 1999 com 92 funcionários.




Decolagem do Boeing 727-200 da Via Brasil do Aeroporto Internacional de Guarulhos em São Paulo. Foto : www.airliners.net

Como vimos, a aeronave voava praticamente todos os dias, e só encerrava sua jornada praticamente no fim do dia. A empresa executava na maioria dos aeroportos nordestinos aproximações visuais ou pelo litoral com voos panorâmicos, já que nestas cidades, a densidade do tráfego aéreo não era tão intensa como nos dias de hoje, o que permitia aos pilotos maior liberdade e espaço aéreo nessas cidades. Normalmente, as tripulações da Via 
Safety on Board da Via Brasil. Foto : Forum Contato Radar
Brasil, só faziam as aproximações por instrumentos nos aeroportos mais movimentados como Guarulhos e Galeão. Outra curiosidade da única aeronave da empresa foi em que numa época de alta estação, a Via Brasil chegava a fazer a rota São Paulo - João Pessoa - Recife - São Paulo duas vezes no mesmo dia. Ela fazia o voo normal pela parte da manhã, e quando a aeronave chegava à tarde em São Paulo, era preparada para fazer essa rota no início da noite, terminando a jornada só na madrugada do dia seguinte, tratando-se de um Boeing 727-200 de mais de 20 anos de carreira, era uma jornada e tanto para esta máquina que ainda teria de voar as outras rotas da empresa no dia seguinte. A companhia aérea entrou o ano 2000 bem otimista com os números de 1999, os planos eram trazer mais aeronaves para reforçar a malha além da expansão da mesma, com voos para Maceió - AL, Porto Alegre - RS e Foz do Iguaçu - PR, além de planos para uma rota para Bariloche na Argentina. Mas a forte desvalorização do Real provocou uma significativa retração do mercado de transporte aéreo brasileiro aumentado às despesas da empresa com manutenção, combustível, etc. Mesmo com estes planos de novas rotas e aeronaves frustradas, a empresa conseguiu fechar o ano de 2000 com 105728 passageiros transportados, com ocupação acima de 76% mantendo sempre os preços lá em baixo. Mas diante desse cenário, 2001 se mostraria um ano cheio de grandes dificuldades e apertos para a jovem empresa nordestina com a desvalorização da nossa moeda. 

Pra piorar o cenário da Via Brasil, começa a voar em 15 de janeiro de 2001, a Gol Linhas Aéreas, que tem a mesma proposta de mercado que a Via Brasil, oferecer tarifas mais baixas, só que com um número maior de aeronaves, sendo estas, os avançados e modernos Boeing 737-700 que eram mais econômicos em todos os aspectos, tanto na manutenção como no consumo de combustível que era absurdamente menor nas mesmas rotas que voava o veterano Boeing 727-200 Advanced da empresa, fazendo com que os passageiros da Via Brasil corressem para a empresa “ laranjinha ” e isso fez com que as dívidas e as pendências com a manutenção fossem se multiplicando. Diante deste quadro, neste mesmo ano, a Via Brasil teve sua aeronave interditada pelo antigo DAC ( Departamento de Aviação Civil ) e com isso, a empresa parou de voar.






Após a atual administração que criou a empresa desistir do negócio, passaram pela empresa, duas administrações, a primeira nem sequer voou com a aeronave, devem ter se surpreendido com as contas no vermelho e passaram para a segunda administração que assumiu no inicio em 2002 e mostrou-se ser um pouco eficiente, transferiu a sede da companhia para São Paulo e operou a seguinte malha no início de 2002. Todas as segundas, quartas, sextas e sábados com os voos VBR9003 entre São Paulo e João Pessoa fazendo a volta como VBR9004 ligando João Pessoa, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo. Já nas terças e quintas fazia o voo VBR9012 que fazia a rota São Paulo, Rio de Janeiro, Natal e Fortaleza retornando como VBR9011 ligando Fortaleza ao Rio de Janeiro e São Paulo.





Essa administração, com essas medidas e com esta malha conseguiu dar uma sobrevida para a Via Brasil, tudo isso sem ainda abrir mão dos preços baixos, agora era possível fazer a ponte aérea entre Guarulhos e o Galeão por apenas R$ 60,00, mesmo assim, a jovem companhia aérea sofreu seu golpe final. O DAC descobriu nos escritório da empresa em São Paulo que não havia documentos que comprovassem a manutenção de vários itens obrigatórios da aeronave, um dos mais graves foi a utilização de um trem de pouso de outra aeronave, equipamento que a Via Brasil não conseguiu comprovar para o DAC a validade e a origem, mais tarde, descobriram que este trem de pouso “ novo ” que substituiu o do 727 da empresa era de um velho Boeing 727-100 da Transbrasil. Também não foram comprovados pela empresa o tratamento com tinta anti-corrosão na fuselagem. Diante destas constatações graves, no dia 7 de julho de 2002, o DAC interditou a aeronave no aeroporto internacional do Rio de Janeiro Tom Jobim/Galeão. Muitos passageiros que já haviam comprado seus bilhetes ficaram sem a possibilidade de fazer suas viagens, tendo alguns destes passageiros seus cheques descontados mesmo após a paralização dos voos além de, nenhum passageiros ter sido ressarcido. 



Uma foto rara da asa esquerda do PT-MLM, um registro único de uma companhia que voou por tão pouco tempo. Voo VBR9004
decolado de São Paulo - Guarulhos rumo a João Pessoa em fevereiro de 2000. Foto : Alessandra Monteiro

A falência da empresa foi pedida pela Rextur Viagens e Turismo Ltda ainda em 2002. Com o fim da empresa, a aeronave ficou encostada no aeroporto do Galeão até 2004 quando foi sem o menor respeito sucateado, cortado em pedaços e vendido por quilo. Um final trágico para uma companhia que se mostrou empolgada e ousada num mercado dominado por gigantes dos quais, apenas daquele grupo, Varig, Vasp, Transbrasil e TAM, a Transbrasil foi para o brejo, a Vasp estava cambaleando e a Varig seguindo na mesma direção destas e sobrevivendo de forma estável e crescendo muito, a TAM e a jovem Gol linhas Aéreas. Bons tempos de escutar o som dos três motores Pratt & Whitney JT8D-17R fazendo aproximações visuais nos aeroportos do nordeste como era comum aqui em João Pessoa, todas as manhãs de segunda, quarta e sextas e logo depois nos sábados, bons tempos que deixam saudades para os amantes da aviação e do Boeing 727. 





Dados da Aeronave

Foto : www.jetsite.com.br

- Modelo : Boeing 727-2B6 Advanced. Obs : o B6 trata-se do código que a Boeing determinava para cada cliente. No caso da Royal Air Maroc, seu código é B6; 
- Linha de Contrução : 1247; 
- Número de Série : 21299; - Primeiro Voo : 3 de março de 1977; 
- Entrega para o Cliente : 22 de março de 1977; 
- Primeiro Cliente e Prefixo : Royal Air Maroc – CN-RMQ; 
- Segundo Cliente e Prefixo : Via Brasil Linhas Aéreas – PT-MLM; 
- Chegada ao Brasil : Dezembro de 1998; 
- Situação da Aeronave : Desmontada em 2004. 

Referências : 

1 – Revista Flap Internacional, Edição 455, Ano 47, Grupo Editorial Spagat;

2 – http:// http://727datacenter.net.
Compartilhe este post :

Postar um comentário

 
Copyright © 2014. williamVIPER - Direitos sobre o conteúdo
Serviço disponibilizado por Blogger