Numa loja da Varig, dentro do Copacabana Palace -- Rio de Janeiro -- entra um jovem e se dirige ao balcão. A atendente vem lhe oferecer ajuda e escuta dele a seguinte história:
-- Comprei uma passagem e embarquei num dos voos desta companhia para Londres no ano passado. Mas no trajeto o avião caiu e eu não consegui chegar até o destino. Agora estou aqui porque acho que tenho direito a outra passagem.
Ele foi prontamente atendido, e recebeu uma nova passagem para Londres. Finalmente Ricardo Trajano seguiria para a capital inglesa, depois de um ano difícil, após passar por um internamento hospitalar de 2 meses, em decorrência de um desastre aéreo em Paris.
Ricardo era o único sobrevivente entre os passageiros do voo. 7 tripulantes da saudosa Varig haviam morrido no local da queda, enquanto que 10 membros da mesma tripulação conseguiram se salvar. No entanto, naquele campo onde existia uma plantação de cebolas, a pouco menos de 1 quilômetro da pista do Aeroporto Internacional de Orly, mais de cem pessoas padeceram entre passageiros e tripulantes no fatídico dia 11 de Julho de 1973.
Parte da fuselagem que sobrou do acidente em Orly com o
Boeing 707 da Varig. Créditos: JetPhotos.Net - Michel Rohart
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O comandante do voo acidentado foi um dos sobreviventes. Ele lutou até o último momento para conduzir a aeronave em segurança até o aeroporto, e quase conseguiu alcançar a pista. Salvou 10 vidas, além da sua (ele, outros 9 tripulantes e o único passageiro que conseguiu se manter vivo dentro da cabine de passageiros sob densa fumaça e dióxido de carbono).
Aquela queda controlada foi um ato heroico, contando também com algumas doses de bastante sorte. Seria um sucesso total, não fossem as perdas. Porém, não seria possível salvar mais vidas, além das que foram salvas. O incêndio à bordo matou quase todos enquanto a aeronave ainda estava no ar e o comandante lutava para realizar o pouso.
Gilberto Araújo da Silva, o comandante daquele voo, continuou na Varig por mais seis anos. Até que em 30 de Janeiro de 1979 ele se envolveu num misterioso caso que até hoje não foi completamente resolvido.
1979 era apenas um de vários anos de conflitos entre duas potências bélicas mundiais, mas que não costumavam disparar nenhum tiro uma contra a outra. Era a Guerra Fria, envolvendo os EUA e a, hoje extinta, URSS. Muitos segredos, principalmente militares, eram extremamente protegidos. Inclusive a criação de uma rede entre computadores, para integrar bases militares e compartilhar dados, evitando que as informações se perdessem se estivessem concentradas em uma única base que fosse alvo de um ataque, deriva deste período, culminando hoje no que conhecemos por Internet.
Um exemplar do Mig-25 em rasante. Créditos: Wikipedia |
3 anos se passaram desde que o Mig 25 oriundo de Saharovka, URSS, pousara em Okkaido, Japão. Durante este tempo, espiões de ambos os lados estiveram monitorando as ações dos japoneses em relação ao super caça soviético. Sabe-se pouco sobre o que os japas fizeram com aquele avião, mas há suspeitas de que partes dele tenham sido entregues aos norte americanos, incluindo linhas de código de seu sofisticado sistema de bordo, contido em seus computadores. Provavelmente, para não levantar suspeitas no transporte destes componentes, os americanos tivessem optado por usar aeronaves civis, que transportavam cargas pelo mundo, aproveitando rotas que passassem por aeroportos dos EUA, vindas do Japão. Este era o caso do voo comandado pelo heroico comandante Araújo, da Varig, naquele 30 de Janeiro, em pleno inverno japonês.
A aeronave da Varig trazia oficialmente em seus porões diversas encomendas de eletrônicos e obras de arte caríssimas, orçadas em mais de US$ 1 milhão. Eram quadros do pintor nipônico, naturalizado brasileiro, Manabu Mabe, que estiveram em exposição por lá. A carga certamente era muito valiosa e poderia despertar a cobiça de colecionadores. Algumas pessoas chegaram a cogitar que isto teria sido motivo para ricos colecionadores prepararem uma operação pra lá de hollywoodiana em busca de interceptar o Boeing 707 da Varig, desvia-lo de rota e roubar a carga. Porém, isto é pouco provável.
O jato quadrimotor da Varig, com apenas 13 anos de serviço, era uma aeronave confiável para atravessar o Pacífico. Seu comandante tinha o perfil de um herói do ar, que conseguira pousar outra aeronave idêntica em chamas, salvando quantas vidas era possível dada a situação. Os tanques do Boeing 707 estavam cheios até a capacidade máxima para aquele voo direto a Los Angeles, e isto permitia a ele ter reserva suficiente para um desvio de rota até um local seguro para pouso caso alguma coisa errada fosse notada pela tripulação. Retornar à ilha japonesa seria uma destas medidas esperadas no caso de uma pane. E o que mais intrigou quem investigou o caso foi o fato de que nenhum relato sobre algo anormal foi recebido por rádio, nem pelas bases de monitoramento que estavam "de olho" no avião em terra, nem por outras aeronaves na mesma rota. Ou seja: Gilberto Araújo, e os outros 5 tripulantes que junto com ele faziam parte daquele voo abordo do 707, não fizeram qualquer pedido de socorro, ou comentaram com o controle de voo qualquer anormalidade.
Voando sobre o oceano Pacífico, o jato com mais de 150 toneladas abordo simplesmente desapareceu, para sempre.
O controle de voo do Japão percebeu que a aeronave não havia feito o contato no ponto onde deveria, para confirmar sua permanência em rota ao centro de monitoramento. Logo iniciaram as tentativas de localizar o voo. 12 horas depois, várias equipes de busca e salvamento varreram o mar na região onde provavelmente a aeronave se encontrava quando desapareceu. Mas, nenhum vestígio do Varig foi encontrado no mar. A hipótese de uma explosão tão rápida que impedisse os tripulantes de realizar algum contato por rádio está descartada. Pois nem fragmentos da aeronave, nem mesmo manchas de óleo sobre as águas onde foram feitas as buscas, foram encontradas.
Um caso recente, envolvendo o voo da Air France que desapareceu sobre o Atlântico em rota para Paris dá uma ideia sobre o que acontece quando uma aeronave mergulha no oceano por algum motivo. O primeiro vestígio encontrado do Airbus A330 foram manchas de óleo e combustível dos tanques sobre a água do mar. Isto indicou o lugar onde a aeronave havia se chocado com a água (ou dava uma ideia bastante aproximada, considerando o tempo e as correntes marinhas). Mesmo a aeronave indo praticamente inteira para o fundo do oceano, ela deixa vestígios sobre as águas. Não foi o que aconteceu com aquele voo da Varig em 1979.
Quer saber mais?
Continuarei este post depois, trazendo maiores detalhes sobre as investigações de casos semelhantes. E poderemos concluir se os soviéticos realmente interceptaram esta aeronave da Varig.
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