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A MTV Brasil Tenta Sobreviver

Escrito por William Santos | terça-feira, 30 de julho de 2013 | 21:45

Em 1997 a internet já era realidade no país, mas ainda estava fora da maioria dos lares. Foi neste ano que, sabe-se lá de onde vinha, o sinal da MTV começou a ser captado na velha Philco Hitachi Ultravision de 20" que tínhamos na sala da casa dos meus pais. Era um canal em UHF, com péssima imagem entre chuviscos e chiadeiras dava pra ver a silhuetas das Spice Girls. Eu tinha curiosidade pra ver as garotas do grupo, imaginava que eram gatas, e me apaixonei pela Melanie C logo de cara. A música ruim não importava, pois assistir video clips compensava o som "marromeno" e até o pop ridículo parecia legal, principalmente de assistir. Era bacana ver o artista em performances nos vídeos, nas produções. E o humor, misturado à música, e os VJs estilosos, enfim, tudo aquilo era novo e muito phoda. Eu passava horas vendo vídeo clips de tudo o que era banda, ou cantor, até dos que não gostava. Na TV aberta, vídeo clip era coisa rara de se ver, naquele canal passava o dia todo. Fui saber mais tarde que a MTV Brasil existia desde 1990, portanto já se passavam 7 anos de seu início quando a emissora alcançou as antenas na longínqua Bayeux (não a francesa, a paraibana Bayeux). Era uma TV jovem, em todo o caso, com menos de uma década.
O Pop ridículo das Spice Girls estava no topo das paradas quando a MTV chegou a minha cidade. Confesso, curtia até o clip delas.

Melanie Chisholm. Musa, naquela

época, entre as Spice Girls.
Até meados de 2000, a MTV era uma emissora essencial em casa. Fugir da chatisse dos demais canais abertos requeria sintonizar a emissora dos vídeo clips. Em um mundo sem internet só tinha duas saídas para o ócio da juventude: ler Super Interessante, ou qualquer coisa do gênero, ouvir música ou assistir MTV. Dava pra fazer tudo ao mesmo tempo, e muitas vezes ocupei meu restinho de tarde, ou noite acompanhado por VJs lindas apresentando clips. Coisa de moleque meio nerd.

A MTV me trouxe bastante informação interessante sobre música mundial, e não apenas pop comercial industrializado. Não digo que influenciou meu estilo diretamente, mas sanou uma demanda por sons e imagens que há muito existia. Marcou época. E passou...

Sufocada Pela Internet

Veio a era da internet. Me conectei pra valer mesmo em 2003, por incrível que pareça. Se quer saber, em minha cidade ainda tem gente excluída da web, pois só há um provedor de conexão banda larga no local, e esta operadora não tem disponibilidade de portas na região central há quase uma década. Nas áreas mais periféricas, a cobertura é tão precária que só com sorte se consegue uma linha. Tanto é assim que o número de antenas para "internet via rádio" sobre o telhado das casas só não supera o de antenas de TV. É assim que a maioria em Bayeux se conecta à rede mundial de computadores, por míseros 1 Mbps cobra-se uma fábula e entrega-se uma conexão tão ruim quanto aquela de 48 Kbps que eu tinha no meu Pentium 233 MMX do início do século, plugado na tomada do telefone, com acesso discado.

Mas em 2003 já era o bastante para baixar MP3 e vídeo clipes no próprio PC. cada arquivo de áudio demorava coisa de 15 minutos pra baixar. Um vídeo clipe poderia demorar de 8 horas até um dia inteiro pra ser baixado, via KazAa. Era o suficiente pra juntar uma videoteca e fazer CDs personalizados de músicas, após muitas madrugadas e longas semanas de espera pelos downloads. A MTV passou a ser uma fonte, depois um complemento e foi ficando em segundo plano à medida em que o acesso à web foi melhorando e as ferramentas online se tornaram mais interessantes. Até que a MTV morreu. Deixou de existir. Acabou, no sentido de que se tornou pouco relevante. A web abriu espaços para suprir demandas ainda maiores e diversas. Blogs, redes sociais, acesso direto a muita coisa que a TV, como mídia, não consegue trazer. A MTV foi arruinada pela própria mídia por onde é veiculada. Não é apenas a MTV que está sucumbindo, é a TV.
A TV Aberta Brasileira Rumo a Uma Grande Crise
Sabrina Parlatore. A MTV ficou menos
interessante depois que ela saiu do
quadro de VJs, na minha opinião.
Entre os maiores canais em TV aberta no Brasil, raros são os que ainda possuem programação para o público infantil. E isto é simbólico. Traz um sinal de que novas gerações estão se afastando da TV, encontrando conteúdo em outras mídias, mergulhados na web. Se avançarmos mais um pouco, os jovens estão na mesma trilha. Não há mais porque passar horas diante de uma mídia tão travada, limitada, com programação predefinida, repetitiva na maioria das vezes, quando se pode interagir, produzir, compartilhar, conectar-se diretamente com o que é relevante e, se já estiver de saco cheio do assunto, simplesmente mudar de página ao clicar em uma nova aba do navegador. Estas novas gerações estão se acostumando distante das TVs e já indicam um futuro sem o poder das emissoras sobre a cultura brasileira.

Este outro fato, a queda do poder que emissoras sempre exerceram no país desde o período da ditadura militar, vem em anexo aos sinais de crises na principal emissora dirigida ao público jovem no Brasil. Nas outras, mesmo nas maiores emissoras, as tentativas de atrair a audiência de jovens retornam fracassos, não é de hoje. As médias de audiências nos programas feitos para crianças e jovens tem sido baixas há tempos, alguns vivem aos tropeços e são mantidos a força em grades de programação, seja por conta do horário, ou porque não há mesmo nada pra tapar o buraco. É o caso de uma telenovela infanto juvenil de fim de tarde que persiste na Globo. Já teve audiência, nunca foi um fenômeno, mas no meio dos anos 90 até que era assistida e comentada. Hoje, nem é lembrada entre a molecada.

O Que Sobra do Canal

Os jovens estão na internet, nas redes sociais, numa nova era da comunicação, um pouco além do alcance da TV, enquanto mídia. Mas antes do suspiro final, canais como a MTV tentam sobreviver de alguma forma. Assim, a MTV será reduzida a um canal para assinantes. Uma estrela de nêutrons, o resquício do que um dia brilhou como grande emissora influenciadora de jovens e canal de expressão da juventude. Lá, apagada, será um canal para alguns, como eu, viver um pouco de nostalgia, assim como faço vez por outra ao sintonizar o canal que hoje tem imagem melhor e conteúdo nada interessante, mas faz relembrar uma época bacana em minha vida, quando eu acordava cedo e assistia clássicos do rock mundial que, até assistir ao vídeo, jamais imaginava como eram as fuças.
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