Este artigo foi escrito para
comemorar a passagem dos 50 anos do primeiro voo comercial do Boeing 727 que
ocorreu no dia 1º de fevereiro de 1964. Uma data marcante para uma aeronave que
até hoje levanta suspiros de antigos pilotos e entusiastas da aviação, até hoje
é a segunda aeronave da Boeing mais fabricada, perdendo apenas para o
737. A primeira parte deste artigo descreverá como o 727 surgiu.
O Começo ( B727-100, -100C e -100QC )
Nos anos 50, o mundo via com bons
olhos, o início dos voos de longo curso dos Boeing 707 nas cores da grande Pan
Am de Juan Trippe, provando que a operação com aeronaves dotadas de motores a
jato não era apenas possível, mas era também o futuro da aviação. A Boeing
tinha acertado em cheio quando desenvolveu o 707, o resultado disso foi o
crescimento explosivo do número de viagens aéreas. Outra vantagem, eram que os motores a jato reduziam o
tempo das viagens pela metade com relação aos aviões turboélices como o DC-6 e
Constellation. O Boeing 707 era o indiscutível rei das viagens internacionais
dominado rapidamente este segmento de mercado. A partir daí, Eastern Airlines, American
Airlines e United Airlines pediram que a Boeing desenvolvesse uma aeronave a
jato capaz de voar rotas curtas e médias, já que, o Boeing 707 possuía grandes
limitações em se tratando de pistas curtas e aeroportos não preparados. Então
em fevereiro de 1956, começava a nascer o Boeing 727.
A Boeing teve que pensar como se
comportaria esta nova aeronave, especialmente no seu tipo de missão, como por exemplo,
ter de executar vários pousos e decolagens durante o dia, acessibilidade para
as tripulações, apoios de solo, desenho do trem de pouso e asas, em resumo,
desenvolver uma aeronave que fazia o oposto do Boeing 707, já que nos voos longos, as
aeronaves voavam uma ou duas vezes por dia e já pousavam em aeroportos com toda a infraestrutura necessária. Então a Boeing levou simplesmente 3 anos para escolher o desenho
que melhor se adequasse as novas necessidades exigidas pelas empresas aéreas, surgiu
todo tipo de desenho, cauda em “ V ”,
motores com diversas configurações, mas a equipe da Boeing optou no fim pelo famoso desenho com os motores na parte traseira da aeronave e com cauda em " T ". A
Boeing também optou por utilizar tecnologias empregadas nos Boeing 707 na
construção do 727 economizando assim, uns belos milhões de dólares no projeto,
já que antes, os fabricantes praticamente financiavam sozinhos os seus projetos
de aeronaves, sem ajuda de nenhum parceiro que fornecessem certos componentes que a Boeing não pudesse fabricar.
Um
dos vários desenhos de como seria o Boeing 727
A asa do 727, era a menina dos olhos
do projeto inteiro, ela é constituída de flaps do tipo Krueger com fenda
tripla, sendo a primeira aeronave a utilizar este tipo de flap, novos desenhos
de slats e bordo de ataque para a época foram introduzidos, além claro de um
asa limpa de motores, que transformou o Boeing 727 numa aeronave capaz de
pousar em pistas curtas com velocidades tão baixas como nunca se havia visto em
uma aeronave a jato, pousando assim, em aeroportos onde nem em sonho o 707
pousava.
A
asa do Boeing 727 em alguns detalhes
Como a aeronave fora pensada para voos
curtos e médios, a mesma deveria fazer muitos pousos e decolagens durante o
dia, isso influenciou muito o desenho do trem de pouso, é só notar o tamanho dos
pneus do trem principal, essas características garantiram ao 727, a
certificação da FAA como a primeira aeronave a jato a operar em pistas não
pavimentadas.
Uma indecisão muito famosa no projeto
do Boeing 727 foi à escolha do número de motores, as três companhias aéreas
norte americanas que junto com a Boeing pediram o 727 estavam num impasse, a
United Airlines queria um quadrimotor para poder operar em aeroportos situados
em grandes altitudes, a American Airlines queria um bimotor já que ela operava
com os quadrimotores Boeing 707 e finalmente a Eastern Airlines queria um
trijato para as rotas que ela fazia para o Caribe, a configuração da Eastern
foi a que agradou a todos os clientes, nascia assim, o primeiro trijato da
história da aviação.
Os motores do 727 ficaram sob
rsponsabilidade da Pratt and Whitney que desenvolveu o famosíssimo JT8D, um
reator turbofan que era baseado no reator J52 ( JT8A ), este motor, tornou-se o primeiro da
história a ser desenvolvido exclusivamente para um tipo de aeronave.
Outro fato curioso do seu desenvolvimento, é
que a Boeing gastou mais de U$$ 30 milhões em testes de fadiga no 727, tudo
isso, para garantir que a aeronave não tivesse de ser redesenhada em caso de
falha de projeto, tornando-se assim, a primeira aeronave da Boeing a ser
submetida por estes tipo de programa de testes, o que lhe garantiu uma boa
longevidade, e cá estamos nós, em pleno século XXI com muitos exemplares do 727
ainda em plena atividade, ultrapassando de longe, os 20 anos que o
fabricante estipulava para a sua vida útil.
Em agosto de 1960, foi iniciada a
construção do primeiro protótipo e em 5 de dezembro do mesmo ano, foram
formalizadas as primeiras encomendas, 40 unidades para a Eastern Airlines e 20
encomendas firmes para a United Airlines com opção de mais 20 aeronaves com um
preço unitário de pouco mais de U$$ 4 milhões chegando a mais de U$$ 20 milhões
no início da década de 1980, a previsão inicial de acordo com o estudo da
Boeing era de que esse mercado precisasse de aproximadamente 250 aeronaves.
Foram necessários 4 anos de testes no
727 para que ele entrasse em serviço. O primeiro voo do foi realizado em 9 de
fevereiro de 1963 pela aeronave de prefixo N7001U, depois se juntaram a ele o N72700, o N7002U
e o N7003U, que juntos completaram os testes de certificação da aeronave junto
a FAA em 24 de dezembro de 1963.
O primeiro protótipo do Boeing 727 que
fez o primeiro voo em 9 de fevereiro de 1963, sendo entregue posteriormente a
United Airlines em 1964.
Os clientes lançadores seriam a
Eastern Airlines e a United Airlines, o primeiro voo comercial foi feito pela
Eastern em 1º de Fevereiro de 1964 pela aeronave de prefixo N8107N ( Foto da Capa ) voando de Miami para
Philadelphia com uma escala em Washington D.C. Já em 6 de fevereiro do mesmo
ano foi a vez da United iniciar seus voos com o 727. Nascia assim, a primeira
versão que ficou conhecida como Boeing 727-100.
As três empresas que inauguraram o
727, notaram no dia a dia de sua operação, aquilo que elas realmente esperavam,
vários recordes eram quebrados, a aeronave se mostrava confiável, dócil de
comandos, não demorando muito a ser o queridinho das tripulações americanas e
também dos passageiros. Muitas facilidades que dotavam o 727 impressionaram os
clientes, como o fato da aeronave possuir uma fonte de energia própria, ou seja,
foi a pioneira a ter uma APU, que permitia energizar a
aeronave em solo com os motores desligados e fazer o acionamento dos mesmos sem
a necessidade de uma fonte externa ( External Power ), equipamento que o Boeing
707 exigia. O 727 também foi à primeira aeronave dotada de escada própria e
também a primeira aeronave a jato a ter apenas um ponto de abastecimento, ou
seja, essas características qualificavam o 727 a operar em uma grande maioria
de aeroportos não preparados, isso agradou a muitos clientes que só fizeram com
que as encomendas do 727 crescessem, tanto no mercado norte-americano, como no mercado estrangeiro.
Com o mercado domestico praticamente
dominado pelo Boeing 727, o fabricante lançou uma conversão que permitia o
transporte de carga, essa versão ficou conhecida como Boeing 727-100C de
Convertible ( Conversível ) que tinha três opções de configuração, a primeira
para transportar 94 passageiros em classes ou 131 passageiros em classe única,
a segunda com capacidade para 52 passageiros e quatro pallets com capacidade de
carga para 22700 lbs ( 10927 kg ) e a terceira totalmente cargueira para 8
pallets com capacidade de 38000 lbs ( 17237 kg ), o cliente lançador
do Boeing 727-100C foi a Northwest Airlines com o primeiro voo sendo feito no dia 23
de abril de 1966.
Neste desenho, é possível ver a
indicação “ CARGO DOOR -100C ONLY ”, uma das modificações feita pela Boeing
para que fosse possível a colocação das cargas na aeronave.
Logo após, a Boeing lançou outra
versão do 727, conhecida como Boeing 727-100QC ( Quick Change ) de Mudança Rápida,
que permitia que entre 30 e 90 minutos, um Boeing 727-100 que transportasse
passageiros, fosse convertido em uma aeronave completamente cargueira, isso era
possível através da paletização de poltronas, banheiros e cozinhas que assim
podiam ser retirados rapidamente. O primeiro voo do Boeing 727-100QC foi feito
pela United Airlines em maio de 1966.
Lembrando que a Boeing não produziu
nenhum Boeing 727-100C ou -100QC de fábrica, o que o fabricante oferecia era
apenas a conversão de aeronaves B727-100 existentes, essa conversão era feita
com reforços no piso da aeronave, adição de uma porta de carga no lado
esquerdo, além, claro, como já foi mencionado acima, pela paletização de
poltronas, cozinhas e banheiros. Muitas empresas utilizavam estas aeronaves
para transportar passageiros durante o dia, e a noite elas eram convertidas
para voar com carga. Esta tática era utilizada, por exemplo, pela Transbrasil
que se beneficiava das versões convertidas para seus voos durante o dia com
passageiros e a noite pelos correios através da Rede Postal Noturna ( RPN ).
Ao todo, foram construídos 571
exemplares da série -100, destes, 407 serviram para o transporte de
passageiros, os outros 164 foram convertidos pela Boeing, destes, 53 foram
convertidos para a série C e os outros 111 foram convertidos para a série QC.
Em breve, a Parte
II
REFERÊNCIAS
1 - www.airliners.net;
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