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Sai a primeira pesquisa em Bayeux

Escrito por William Santos | sexta-feira, 3 de agosto de 2012 | 19:36

E reflete o que era esperado, porém com algumas surpresas. E todas as surpresas são boas, principalmente para a cidade.

Como já mostrei aqui, a insatisfação do cidadão em Bayeux com o quadro político é grande. E a insensibilidade da politicada na cidade em perceber isto é incrível. Óbvio, não conseguiriam se manter absolutos por muitos anos, um dia o castelinho cairia e, pelo visto, ele começa a ruir -- mais rápido do que eu poderia imaginar.

Eu já havia levantado, por indicações dos resultados de eleições, que os grupos que tradicionalmente polarizam as eleições em Bayeux não seriam capazes de tanto sucesso caso o eleitor encontrasse alternativas para tirá-los do poder. Tudo indica isto, principalmente o grau elevado de abstenção eleitoral na cidade. Mas há fatores além disso que mostram que o eleitorado em Bayeux estaria reagindo. Um dos mais significantes é a rejeição vista em relação ao atual prefeito. Ele foi apoiado e apoiador dos principais grupos, esteve no núcleo da polarização e é um ícone da política local. O cara nem foi tão mal assim (foi apenas péssimo, como seus aliados/concorrentes), mas de repente se transformou no símbolo da saturação eleitoral em Bayeux.

É perceptível que não há mais o que os grandes grupos possam fazer. Eles tentaram todas as combinações imagináveis, apelaram para tudo que podiam e hoje disputam a popularidade do atual governador do estado. Chegaram no fim do poço e acabaram empilhados sobre o lodo. O próximo passo é seguir cavando para baixo, caso tentem se mexer mais. A única, e última chance de poder para eles reside na falta de opções para o eleitor. Se o eleitorado em Bayeux não enxergar os candidatos que se colocam como boas opções, pode ser que um dos dois grupos consiga se eleger. Mas não vai muito longe. Fica claro que o eleitorado mudou. Tomou muita porrada antes de mudar, é claro, mas reagiu.

A pesquisa de hoje, publicada no Jornal da Paraíba [Veja aqui], realizada pelo Ipespe, indica que aquela margem de 30% do eleitorado capaz de recusar os dois grandes grupos em Bayeux já aparecem nos dados. E este é só o primeiro indício da mudança. Outro sinais são ainda mais animadores.

A pesquisa aponta que em primeiro lugar está o Expedito Pereira, com 31% de intenção de votos na consulta estimulada. Na espontânea, ele tem meros 18%, mas ainda em primeiro. Em segundo fica a candidata Sara Cabral, com 21% na estimulada e 11% na espontânea. Notem como há uma diferença enorme entre a espontânea e a estimulada. Indica indecisão. E o eleitorado que costuma aderir a estes dois é, de fato, inseguro. Não é o tipo de eleitor que confia no candidato. Tem um perfil que podemos classificar de "eleitor que chuta qualquer voto". Em anos onde a polaridade entre as duas frentes não deixava nenhuma escolha (e isto aconteceu mais de duas vezes nas últimas duas décadas), este eleitorado foi "na onda". Por ai encontramos outros pontos bacanas: Os dois nomes são simplesmente os nomes mais tradicionais na política de Bayeux dentro da disputa. Isto indica que: 1 - Eles são os mais conhecidos entre todos. 2 - Numa pesquisa realizada nos primeiros dias de campanha, quando nem todos foram as ruas ainda, seria natural que ambos estivessem isolados na frente.

No resumo do que quero dizer, o valor percentual de Sara e Expedito deveria ser a média das urnas quando eles disputaram eleições (ou participaram ativamente apoiando nomes). E eu fui buscar estes dados para verificar se Expedito e Sara são de fato capazes de convencer o eleitorado em Bayeux, ou se fica evidente que o eleitor bayeense apenas os tolera, por falta de opção. E qual seria o grau de tolerância? Será que o eleitor já enxerga os candidatos que são alternativas de mudança, ou a insatisfação faz com que o eleitor, agora, simplesmente desista de votar em Expedito e Sara?

Veja o declínio entre as eleições (dados tirados das urnas) e o que mostra (na média entre estimulada e espontânea) a atual pesquisa:
Em 2004 a soma dos votos dos candidatos das duas frentes tradicionais e polarizadoras em Bayeux atingia o ápice, com 80%. Logo depois volta ao patamar abaixo disto e perto de 70%. A pesquisa mostra que esta parcela hoje mal ultrapassa os 40% do eleitorado.
O gráfico mostra um belo tombo. O declínio estava sendo indicado quando o eleitorado evoluía e os votos nos candidatos do eixo Pereira - Cabral não conseguiam adesões na mesma escala. As brigas entre os dois lados, o jogo de interesses por trás de tudo isto e o abandono da cidade iriam, em algum momento, causar uma reação. Foi uma grande tolice dos dois grupos não perceberem que estariam indo longe demais com as brincadeiras. E o resultado está ai.

O que seria o normal nesta pesquisa

Os dois grupos deveriam ser francos favoritos sem margem para nenhum outro candidato se aproximar. Isto significa que volume de brancos, nulos, indecisos deveria ser baixo, na casa de uns 10%. A soma dos candidatos fora dos dois grupos deveria exibir outros 10% (depois eu explico porque). Expedito e Sara teriam que garantir valores que somassem acima de 70% e o mais próximo possível de 80% para apenas mostrarem que seu eleitorado é estável. E entendam estável como sendo um eleitorado minimamente satisfeito, considerando válido ser fiel aos seus candidatos.

Esta normalidade leva em conta não apenas os fatores satisfação e fidelidade, mas o principal de todos neste momento que é a popularidade. Esta foi a principal medição nesta pesquisa após um curtíssimo período de campanha. Tem gente que nem se tocou ainda que é período eleitoral e nem pensou no assunto direito. Agora avalie que os dois não são candidatos novatos sendo apresentados. São dois ex gestores que estiveram 100% do período recente metidos até a medula com a política local. Portanto, se eles não conseguem nem 60% do eleitorado em Bayeux, numa consulta estimulada, é porque o eleitor decidiu de vez dar um recado: "Basta!"

Explicar o desempenho medíocre na primeira pesquisa exige observar o foco do eleitor quando recusou Expedito e Sara. E o foco, segundo os dados, está direcionado a uma abstenção recorde. O número de indecisos, na pesquisa estimulada, equipara-se ao de brancos e nulos. Na espontânea, vai para a casa dos 65% a soma de todos que responderam decididos a não votar, ou estarem indecisos. São valores altos quando observamos que Bayeux nestas eleições coloca 7 candidatos na disputa. E é ai que percebo outros fatos interessantes.

Candidatos alternativos não puxaram os eleitores (ainda)

Não foram os candidatos que enfrentam os dois grupos os responsáveis pela reação fria do eleitorado com os candidatos mais tradicionais. Isto ainda não é influência dos que fazem contra-ponto aos dois grupos. É um tropeção que os grupos tradicionais deram nas próprias pernas mesmo. É fácil perceber este fato quando olhamos o grau de adesão do eleitorado em relação a candidatos que hoje são contra Expedito e Sara. Eles pontuam em 12% na pesquisa estimulada (não consegui dados da espontânea).

Lembram que eu deixei para comentar sobre os 10% que deveriam estar com os candidatos alternativos? Pois é, seria natural, mesmo que existisse apenas um fraco candidato, que o valor destinado a ele(s) oscilasse numa margem entre 2% e 10%. historicamente, estes valores refletem tanto o desempenho de candidatos alternativos em campanha, quanto em resultados de urnas.
Candidatos que se colocam como novas opções estão conseguindo um desempenho muito mais elevado do que os números vindos das urnas para esta mesma "classe" nas últimas eleições. Porém, as pesquisas sempre os mostram neste patamar entre 2% e 10%

Neste momento, o que a pesquisa diz é que o eleitor não ainda enxerga as opções. Embora elas existam.  É diferente das últimas eleições porque agora não há apenas um herói solitário se aventurando contra os cachorros grandes. Existem 5, dos quais um ou dois representam ótimas escolhas, com bom preparo e novas visões para uma gestão digna. É uma questão de tempo até que estes candidatos sejam encontrados pelo eleitor. Até porque, neste momento, eleitores estão procurando-os.

Depuração

Os jogos de interesses eleitoreiros em Bayeux consolidaram polarizações ao longo de décadas. O número de participantes neste jogo não é suficiente para, sozinho, eleger qualquer dos dois que dominam o cenário. Como o amplo eleitorado já não suporta mais esta disputa eterna, com a cidade em segundo plano sempre, o desgaste sobre ambos os grupos cresceu até aqui, onde se aproxima do ponto de ruptura. Os sinais de que este limite está próximo estão nítidos na pesquisa publicada hoje.

Com riscos de impedimentos judiciais sobre uma das candidaturas, por conta de processos, e dificuldades de a outra campanha não convencer eleitores já saturados de tudo o que acontece por décadas em Bayeux, é provável que uma debandada de interesseiros migrem de lado a lado. Este fenômeno, se ocorrer neste momento, desestabilizará completamente os dois grupos. Mas há outra possibilidade: Junção.

Todos aqueles interessados em uma teta pública podem caminhar para o lado "sobrevivente" na campanha. Esta manobra pode até garantir uma vitória de tal grupão. Mas Bayeux se tornaria ingovernável (não, não há espaço pra tantos interesses na máquina pública) e o caos combinaria com um cenário onde o eleitor já tem coragem para reagir (está claro pelo resultado da pesquisa). Seria o fim definitivo de um período obscuro na história desta cidade, quando nenhum resquício dos dois grupos tradicionais sobreviveria à [auto] catástrofe.

Eu observei com isto que Sara e Expedito (grupos Pereira e Cabral) estão esgotados. E mais: estão sem saídas também. Como o eleitorado esteve por décadas, e acabou submetendo-se a eles. Estas brigas, suas gestões e influências no poder em Bayeux, produziu um "ecossistema politiqueiro" que é impossível deles próprios controlarem. Um monstro perigoso e que pode devorar seus criadores a qualquer momento, basta que não consigam provar que são absolutos. E a ânsia deles em conhecer as pesquisas deriva disto. Até aqui, não tinham muita preocupação com o eleitorado (não havia vasta opção mesmo). Mas agora o monstro bufa em seus cangotes enquanto o eleitorado some. E o eleitorado reage, antes mesmo de enxergar as opções. E o melhor de tudo: as opções estão ai, e algumas são boas.
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