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Imprensa + Política = Desastre

Escrito por William Santos | quarta-feira, 18 de julho de 2012 | 15:27

Existiu uma época em que a informação descia por um único canal até a opinião pública e quase nada podia ser feito quando alguma injustiça era cometida, fosse intencionalmente ou por algum desleixo de quem repassava as informações. Mas este tempo acabou, hoje temos uma mídia livre através da web e aqui podemos contestar falhas diversas.

Em período de campanha, misturar interesses políticos com serviço de informação pública é desastroso. Nossa história registra um evento deste tipo que teve consequências lamentáveis para o país, quando editores da Rede Globo editou o debate entre Collor e Lula de modo a favorecer o alagoano em 1989. O pior de tudo é a vergonha alheia, quando a manipulação salta aos olhos do leitor e a credibilidade do jornal, revista, portal, noticiário, etc. (maior riqueza que um veículo de informação pode acumular ao longo do tempo) acaba em xeque. Dai o cuidado com o modo como se exprime opinião.

Neste blog, todos sabem minha opinião sobre a política em Bayeux, portanto pode fazer a leitura de cada palavra minha considerando que eu possa estar organizando os fatos de modo a comprovar aquilo que penso. Isto também permite a você, leitor, confrontar meu pensamento e deixa livre para buscar mais conteúdo. Afinal, você sabe que eu tenho uma opinião e posso inclinar meus textos a confirmar aquilo que penso. Ou seja: Embora eu busque ser justo e correto contigo, não posso jurar a você que eu seja imparcial quando estou escrevendo sobre algo ou opinando. Isto é honestidade. E em alguns países é assim também para a imprensa. Em edital, jornais costumam expôr abertamente aos seus leitores que candidato/partido aquela empresa apoia e os motivos pelos quais o fazem. É assim nos EUA, por exemplo, onde há plena liberdade e onde cada leitor consegue enxergar, sem máscaras, os interesses por trás da notícia.

Aqui, ao invés de assumirmos que não há plena isenção e quase tudo é manipulado ou exposto parcialmente, criamos regras tolas que visam impedir que ocorram desequilíbrios na hora de informar a sociedade sobre o que se passa na política. Isto se deve, em parte, ao fato de que a imprensa nacional é concessionária de um serviço público que, em teoria, não deve servir a um lado exclusivamente. No entanto, na prática, quase todos os órgãos de imprensa, veículos de comunicação em geral, está sob comando político. Na imensa maioria, este comando é indireto. E assim, negando a realidade, seguimos acreditando em mentiras como esta sobre a imparcialidade jornalística. Tudo é parcial, manipulado, direcionado e focado em uma ideia, ideologia ou interesses, alguns dos quais bastante podres.

Em Bayeux

Na cidade onde moro, não poderia ser diferente. Disfarça-se mal estas relações entre imprensa e política. Um dos portais mais populares na cidade, com vasto número de acessos, por exemplo costuma cair neste pecado. Quando o deslize é pequeno, tudo bem, consideramos apenas uma distração. Mas quando uma matéria estampa isto na sua chamada: "Fulano tentou suspender obras" e no corpo da matéria não se encontra nenhuma linha que comprove o que diz o título, muito pelo contrário, fala-se sobre um processo de determinado político que tenta impedir que ocorra o pagamento por uma obra que está abandonada na cidade, então nos deparamos com um fato bizarro de tentativa de manipular fatos e prejudicar alguém.

Bizarro porque a matéria expõe o próprio processo na íntegra (ou com todos os trechos disponíveis publicamente no portal da justiça), onde se lê claramente que a preocupação do autor era não permitir que uma obra abandonada fosse paga pela prefeitura. O fato é que a justiça considerou as provas insuficientes para afirmar que a obra estivesse parada (embora esteja, e isto é público na cidade), e não aceitou que fosse ordenado a prefeitura que suspendesse qualquer pagamento. Não há absolutamente nada que comprove que o tal sujeito estivesse tentando impedir a obra. A única explicação para o portal estampar um título daqueles é o fato de que o "fulano" em questão é um político local e está disputando eleições neste ano. O título talvez o prejudicasse, à medida em que fosse lido por pessoas que não se dessem ao trabalho de ler o texto da matéria. E quem leu, certamente ficou estupefato com a falta de correspondência entre a manchete e seu conteúdo.

A matéria exibe uma versão dos fatos em nome da prefeitura da cidade, administrada por adversários políticos do autor do processo. No entanto não traz nenhuma declaração do próprio autor a respeito do processo e não consegue conectar o título ao conteúdo
No trecho onde estão expostas partes do processo, a informação é bem diferente do que diz a manchete. O autor do processo fez um pedido de impedimento de pagamento por uma obra que ele afirma estar abandonada.
A obra

Embora tudo envolva interesses políticos e ninguém seja inteiramente santo nesta história, a obra em questão é uma das cicatrizes existentes na cidade. Ela pode ser vista aqui em imagens de satélite de Junho de 2007, exatamente como está até hoje, o que sugere que esteja de fato parada.
No centro, a avenida que está sendo duplicada (área mais clara em destaque). A imagem retirada do Google Earth mostra que em Junho de 2007 ela estava no mesmo estágio em que se encontra hoje, em 2012.
Em close, detalhes da obra em imagens de satélite feitas em 2007.
Esta obra não é a única que se arrasta por anos em Bayeux. O hospital público (único para atendimento de quase cem mil habitantes) passou por três administrações para ser erguido e posto para funcionar. Um ginásio poliesportivo não passou de uma calçada para cooper em um terreno baldio da cidade. Em todas as eleições, obras paradas, abandonadas, promessas esquecidas, são armas nas mãos dos políticos. E são sempre os mesmos que buscam se alternarem no poder. Dai a necessidade do bayeense em buscar opções para colocar um fim neste ciclo maldito.

Espera-se que pelo menos a imprensa demostre respeito ao cidadão e eleitor. E exiba o que há nas entrelinhas destas histórias. Ou, pelo menos, busque ser equilibrada. Uma imprensa desequilibrada perde seu bem maior, que é a credibilidade, e termina dominada por gente de interesses escusos. Enfim, não compensa agir assim.
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