Em período de campanha, misturar interesses políticos com serviço de informação pública é desastroso. Nossa história registra um evento deste tipo que teve consequências lamentáveis para o país, quando editores da Rede Globo editou o debate entre Collor e Lula de modo a favorecer o alagoano em 1989. O pior de tudo é a vergonha alheia, quando a manipulação salta aos olhos do leitor e a credibilidade do jornal, revista, portal, noticiário, etc. (maior riqueza que um veículo de informação pode acumular ao longo do tempo) acaba em xeque. Dai o cuidado com o modo como se exprime opinião.
Neste blog, todos sabem minha opinião sobre a política em Bayeux, portanto pode fazer a leitura de cada palavra minha considerando que eu possa estar organizando os fatos de modo a comprovar aquilo que penso. Isto também permite a você, leitor, confrontar meu pensamento e deixa livre para buscar mais conteúdo. Afinal, você sabe que eu tenho uma opinião e posso inclinar meus textos a confirmar aquilo que penso. Ou seja: Embora eu busque ser justo e correto contigo, não posso jurar a você que eu seja imparcial quando estou escrevendo sobre algo ou opinando. Isto é honestidade. E em alguns países é assim também para a imprensa. Em edital, jornais costumam expôr abertamente aos seus leitores que candidato/partido aquela empresa apoia e os motivos pelos quais o fazem. É assim nos EUA, por exemplo, onde há plena liberdade e onde cada leitor consegue enxergar, sem máscaras, os interesses por trás da notícia.
Aqui, ao invés de assumirmos que não há plena isenção e quase tudo é manipulado ou exposto parcialmente, criamos regras tolas que visam impedir que ocorram desequilíbrios na hora de informar a sociedade sobre o que se passa na política. Isto se deve, em parte, ao fato de que a imprensa nacional é concessionária de um serviço público que, em teoria, não deve servir a um lado exclusivamente. No entanto, na prática, quase todos os órgãos de imprensa, veículos de comunicação em geral, está sob comando político. Na imensa maioria, este comando é indireto. E assim, negando a realidade, seguimos acreditando em mentiras como esta sobre a imparcialidade jornalística. Tudo é parcial, manipulado, direcionado e focado em uma ideia, ideologia ou interesses, alguns dos quais bastante podres.
Em Bayeux
Na cidade onde moro, não poderia ser diferente. Disfarça-se mal estas relações entre imprensa e política. Um dos portais mais populares na cidade, com vasto número de acessos, por exemplo costuma cair neste pecado. Quando o deslize é pequeno, tudo bem, consideramos apenas uma distração. Mas quando uma matéria estampa isto na sua chamada: "Fulano tentou suspender obras" e no corpo da matéria não se encontra nenhuma linha que comprove o que diz o título, muito pelo contrário, fala-se sobre um processo de determinado político que tenta impedir que ocorra o pagamento por uma obra que está abandonada na cidade, então nos deparamos com um fato bizarro de tentativa de manipular fatos e prejudicar alguém.
Bizarro porque a matéria expõe o próprio processo na íntegra (ou com todos os trechos disponíveis publicamente no portal da justiça), onde se lê claramente que a preocupação do autor era não permitir que uma obra abandonada fosse paga pela prefeitura. O fato é que a justiça considerou as provas insuficientes para afirmar que a obra estivesse parada (embora esteja, e isto é público na cidade), e não aceitou que fosse ordenado a prefeitura que suspendesse qualquer pagamento. Não há absolutamente nada que comprove que o tal sujeito estivesse tentando impedir a obra. A única explicação para o portal estampar um título daqueles é o fato de que o "fulano" em questão é um político local e está disputando eleições neste ano. O título talvez o prejudicasse, à medida em que fosse lido por pessoas que não se dessem ao trabalho de ler o texto da matéria. E quem leu, certamente ficou estupefato com a falta de correspondência entre a manchete e seu conteúdo.
Embora tudo envolva interesses políticos e ninguém seja inteiramente santo nesta história, a obra em questão é uma das cicatrizes existentes na cidade. Ela pode ser vista aqui em imagens de satélite de Junho de 2007, exatamente como está até hoje, o que sugere que esteja de fato parada.
Em close, detalhes da obra em imagens de satélite feitas em 2007. |
Espera-se que pelo menos a imprensa demostre respeito ao cidadão e eleitor. E exiba o que há nas entrelinhas destas histórias. Ou, pelo menos, busque ser equilibrada. Uma imprensa desequilibrada perde seu bem maior, que é a credibilidade, e termina dominada por gente de interesses escusos. Enfim, não compensa agir assim.
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