Postei este texto agora há pouco no Facebook. A intenção era de dar um pitaco sobre a discussão do aborto, mas acabei escrevendo um bocado e então resolvi trazer aqui pro blog e compartilhar com outras redes também (até porque, nem uso tanto assim o Facebook. Foi quase um acidente este texto ter surgido enquanto eu estava ali vendo umas bobagens...)
-> Boa parte dos políticos engajados contra o aborto possuem discurso favorável à pena de morte. -- São a favor da vida e da morte de acordo com o que lhes convém;
-> Uma maioria que ataca indiscriminadamente a discussão sobre aborto não se engaja com a mesma dedicação em campanhas pró adoção. A grande maioria nem mesmo se importa com crianças em situação de risco;
-> Políticos com discursos mais inflamados contra o aborto custam algo em torno de 120 milhões por ano à nação e não se dedicam a pressionar o governo a investir mais do que 7% do PIB em educação (enquanto nações em condições piores que a nossa investem acima de 10%, no mínimo) e não estão dispostos a abrir mão de suas mordomias bancadas por nós, contribuintes, para garantir o futuro de crianças e do próprio país. São almas santas, de espírito lindo, que querem salvar fetos, mas não se importam como será a vida destes pequenos cidadãos, submetidos a lutar pela vida neste país governado por pilantras;
-> Líderes religiosos que dedicam-se a atacar a discussão sobre o aborto não se dispõe com a mesma energia a denunciar e atacar crimes contra crianças (menos ainda quando suas instituições estão envolvidas). Eles também não se esforçam com a mesma intensidade em construir abrigos e centros capazes de proteger nossos pequeninos cidadãos de toda a canalhice que cultivamos em nossa nação. Mas conseguem fazer coisa melhor: São, em maioria, negligentes no incentivo e formação crítica de uma sociedade. Pregam, por meio de religião, obediências cegas e renúncia de pensamento e crítica, que nos leva a sermos cordeirinhos mansos cuidados por lobos ferozes;
-> Nossa mídia, apelativa, fornece desinformação e promove uma cultura de irresponsabilidades. É um meio de chamar a atenção, obter audiência e, com isto, grana fácil. Mas também é um meio de agredir o bom senso e destruir a boa formação, ou atrapalhar bastante qualquer formação, de uma criança. Não investimos em conhecimento, investimos em tolices. Mas na hora de falarmos em aborto, a santa mídia é sempre politicamente correta e preocupada com os pobres fetos oriundos de ventres adolescentes de uma geração bombardeada por porcarias, futilidades e cultura irresponsável, oriunda dos apelos (entre eles os sexuais) adotados por nossa TV, nossos hits musicais e estampados em nossas revistas;
Nós somos hipócritas demais para acreditarmos que possuímos alguma moral pra debater assuntos sérios como aborto. Somos cretinos demais pra não enxergarmos que abortamos uma sociedade inteira, que é uma coisa mais grave do que o aborto de um feto. Somos estúpidos demais para pensarmos na amplitude que nossos atos adquire ao longo do tempo em nossa sociedade.
Sou contra o aborto indiscriminado, assim como sou contra todas estas 'cretinices'. Que o debate sobre o aborto siga além de um foco sobre embriões e fetos e chegue às crianças nas ruas, ao tráfico de drogas, à falta de perspectiva, de escolas, de empregos... Que este debate regrida até a origem da estupidez em nossa cultura, em nossa mídia e descubra que a forma de obter grana por meio apelação e baixaria provoca efeitos colaterais na sociedade.
Vamos abortar nossos deputados, vereadores, líderes religiosos e nossa mídia imbecil e gerar uma nova sociedade, onde ninguém pense, nem mesmo remotamente, em uma concepção irresponsável. E que assim jamais uma criança corra o risco de ser morta ainda no ventre. Que tal isso? ;)
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